A construção civil sempre foi um termômetro da economia do país. Quando entramos em crise, este setor é o primeiro a sentir. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregos, em 2013, ainda no período pré-crise, o setor perdeu mais de 800 mil postos de trabalho. Mas, felizmente, este cenário vem mudando e o mercado de construção civil e imobiliário já sentiu os primeiros respiros da economia. Segundo uma pesquisa feita pela Secovi-SP (Sindicato de Habitação), em 2018, foram comercializadas 12 mil unidades residenciais no primeiro semestre. Estes dados estão próximos da média histórica, registrada em 2004.
Contudo, apesar da construção civil ser um medidor da infraestrutura do Brasil, este setor sempre esteve atrasado em relação aos avanços tecnológicos do país. Para que haja uma mudança nessa realidade, surgem as construtechs, empresas de tecnologia que estão investindo na construção civil. Segundo dados da Terracotta Venture, há mais de 500 construtechs no Brasil, transformando digitalmente esse mercado com tecnologia de ponta: realidade virtual, inteligência artificial, softwares, aplicativos e outros.
As construtechs são especializadas na transformação deste mercado porque entenderam o ambiente da construção civil antes de implantar essa mudança. O setor estava atrasado tecnologicamente, inclusive em suas atividades básicas. Antes, um construtor tinha que analisar diversas plantas separadas, como estruturas engenhosas de projetos hidráulicos, elétricos e outros. Hoje, é possível observar todas as plantas da obra em um só programa, com maquete eletrônica em modelagem 3D dentro da realidade virtual.
A mesma situação de carência tecnológica acontecia no mercado imobiliário. Para se comprar um imóvel, era preciso entrar em contato com um corretor, que iria pesquisar locais de acordo com a solicitação do cliente. Posteriormente, seriam feitas as visitas, que muitas vezes não resultavam em nada, por não estar de acordo com as expectativas do cliente. Seria preciso então marcar outro dia de visitas. Isso era contra produtivo, já que demandava muito tempo. A realidade virtual também já elimina essas visitas.
Apenas com um celular e um óculos VR, o comprador do imóvel terá a sensação de estar dentro do futuro ambiente. Ele consegue então, observar a casa ou apartamento como um todo, ter noção de profundidade e, inclusive, ver qual será a vista externa pelas janelas. Consegue ver, então, exatamente o que está comprando, sem sair do lugar. Também é possível personalizar o design interior de acordo com o perfil de cada comprador, seja de um adulto que mora sozinho, um casal ou uma família com filhos, por exemplo. E essa praticidade e confiança para a família é muito importante. Afinal, para se vender uma casa ou apartamento, é necessária a aprovação de todos os envolvidos.
E estas vantagens tecnológicas não valem apenas para compradores, investidores ou corretores de imóveis. Atualmente, as lojas de varejo de materiais de construção têm disponíveis plataformas que prospectam novas obras em andamento no Brasil todo, quebrando aquele velho ciclo de esperar o cliente aparecer.
Os benefícios da tecnologia no mercado de construção civil e imobiliário, portanto, são inúmeros. Vão desde a otimização do tempo, encurtamento de distâncias até ideias sustentáveis e confiança dos clientes nos valores da marca, que agrega valor aos produtos e profissionais deste segmento. Por ainda ser um setor engessado, sempre que uma tecnologia é aplicada em algum processo, independente de qual seja, a economia gira e toda a sociedade saí ganhando.
O desafio das construtechs é quebrar o pré-conceito das empresas de construção mais tradicionais, como os lojistas, que muitas vezes fecham as portas por não se adaptarem. É preciso entender que hoje o consumidor mudou. Em qualquer público que seja, a primeira pesquisa feita sobre um produto é na internet. Aquelas empresas que não têm site ou não se relacionam com seus clientes, se atrasam. As mudanças são necessárias, pois a transformação digital já está presente no mercado de construção civil.
Wanderson Leite é formado em administração de empresas pelo Mackenzie e fundador das empresas ASAS VR, que leva realidade virtual para as empresas e escolas; ProAtiva, de treinamentos corporativos digitais; e Prospecta Obras, plataforma do segmento de construção civil.
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