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Pai rico, filho nobre, neto pobre

em Artigos
quinta-feira, 11 de abril de 2019

Marcelo Aquino (*)

O sonho do próprio negócio é objeto de desejo de vários brasileiros.

Pelo forte anseio de ter um empreendimento, as empresas familiares se tornaram um tipo de empreendimento recorrente. Essa estrutura empresarial possui relativo sucesso no Brasil. Mesmo com resultados positivos, o ponto crítico para a perpetuação de companhias familiares, que é o principal tipo de negócios no estado de Goiás, está na linha de sucessão do comando da empresa.

A continuidade desses empreendimentos no mercado pode se tornar algo incerto justamente quando a companhia precisa definir um sucessor. Vínculos familiares na linha de sucessão, grande disputa no cargo por filhos de acionistas e a falta de discussão sobre o assunto são alguns dos motivos que dificultam essas empresas de possuírem um planejamento formal sobre os próximos gestores. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças reflete essa realidade no estado.

O estudo feito com diversas empresas goianas de caráter familiar mostra que a grande maioria delas está ainda na primeira geração, contabilizando 63% no total. Um levantamento da KPMG também mostra o fato de os sucessores não estarem preparados para tal, ao constatar que 44% das empresas ainda não possuem Acordo de Acionistas e 54% não têm planejamento sucessório formalizado.

A partir desses dados, portanto, é possível notar que o principal desafio para esse tipo de negócio é sobreviver à primeira sucessão. Um dos motivos cruciais para a não perpetuação dessas empresas no mercado é a falta de planejamento para eventuais problemas que impossibilitem o gestor de comandar o estabelecimento. Casos de doença, mortes inesperadas, acidentes, brigas familiares devem sempre ser consideradas.

Nesse sentido, estabelecer um diálogo recorrente sobre a sucessão é a chave para uma gestão preparada. Mas, o que ocorre nas empresas atualmente é o contrário. Menos da metade dos gestores destes negócios discute anualmente planos de sucessão, enquanto 34% comentam raramente sobre o assunto e 20% nunca falam sobre sucessão. Como consequência, diversas empresas passam por processos de sucessão desgastantes.

Desse modo, é importante entender que mais do que gerir uma empresa e harmonizar as relações familiares e de trabalho, é necessário também se programar. Qualquer motivação que venha a impedir o CEO de cumprir a função frente à empresa de forma inesperada poderá derrubar um sonho familiar de anos.

Somente através do planejamento é que o ditado popular pode ser subvertido e as gerações seguintes poderão desfrutar do trabalho e empenho das famílias.

(*) – É sócio e responsável pelo escritório da KPMG em Goiânia (www.kpmg.com.br).