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Veículos autônomos: um fracasso?

em Tecnologia
quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Viabilizar carros autônomos tem sido um dos grandes objetivos da inteligência artificial.

Vivaldo José Breternitz (*)

Hoje podemos dizer que, apesar dos gastos de dezenas de bilhões de dólares em tentativas de produzir um veículo comercial viável, esse objetivo não foi alcançado.

A recente saída do mercado americano de um dos principais operadores de taxis autônomos, a Cruise, vinculada à General Motors e a introdução de legislação rigorosa acerca do assunto em alguns países, parecem indicar que as esperanças de se obter lucros com os veículos autônomos estão ainda mais distantes do que antes. O próprio futuro da ideia está em jogo.

A tentativa de produzir um carro autônomo começou em meados dos anos 2000, quando uma instituição de pesquisa ligada ao governo americano ofereceu um prêmio de US$ 1 milhão para quem conseguisse criar um veículo autônomo capaz de executar manobras básicas.

Isso deflagrou uma corrida entre empresas voltadas às áreas automobilística e de tecnologia para produzir o que pensavam ser a galinha dos ovos de ouro: um veículo capaz de operar em todas as condições, sem motorista.

Desde o início, a empolgação superou em muito os avanços tecnológicos. Em 2010, na Expo de Xangai, a General Motors exibiu um vídeo mostrando um carro autônomo levando uma mulher grávida para o hospital em uma velocidade vertiginosa e, como a narração assegurava aos espectadores, de forma segura. Além da utilidade e comodidade, a possibilidade de reduzir o número de mortos em acidentes de trânsito, cerca de 1,25 milhão ao ano, eram os atrativos dos carros autônomos

E a segurança está se revelando o calcanhar de Aquiles da tecnologia: um carro do Uber matou uma pessoa nos Estados Unidos, levando a empresa a abandonar a ideia de utilizar autônomos e a esperança de que em alguns anos não precisaria mais de motoristas, maximizando seus lucros.

A Cruise retirou seus veículos das ruas, após alguns atropelamentos e interrupções do trânsito causados por seus carros, sem que as causas desses incidentes se tornassem públicas. Agora, depois de paralisar suas operações, a empresa está demitindo seus funcionários.

Também a Tesla, que afirmava que algum de seus carros dispunham de software para “direção totalmente autônoma”, enfrenta diferentes processos judiciais, depois de diversas mortes causadas por seus veículos dotados dessa funcionalidade.

Praticamente já não se fala de frotas de caminhões rodando autonomamente pelas estradas.

Tudo isso destaca as dificuldades tecnológicas enfrentadas pela transição para a condução autônoma, bem como a fragilidade de alguns argumentos que sustentam o desenvolvimento de veículos desse tipo.

É oportuno lembrar que fazer previsões no campo da tecnologia pode gerar vexames: em 2017 o então Secretário dos Transportes do Reino Unido, Chris Grayling, disse que em 2021 os veículos autônomos estariam rodando pelas estradas daquele país…

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATERC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.