Diferenciais do canal desenvolvido pela start-up são a experiência confortável e intuitiva por parte do usuário e o suporte completo para que as empresas consigam prevenir e solucionar problemas que vão de assédio sexual a corrupção, discriminação, fraudes e bullying
O mundo corporativo, não apenas no Brasil mas de forma globalizada, vive hoje um paradoxo: se de um lado colaboradores e clientes valorizam as empresas que se esforçam e investem para criar um ambiente de trabalho pautado por práticas de inclusão, de outro ainda é alto e preocupante o número de casos envolvendo má conduta por parte de funcionários dentro dos escritórios e fábricas. Aqui, pesquisa recente realizada pelo Linkedin com o Think Eva – consultoria pautada na criação de soluções para a desigualdade de gêneros nas corporações – mostra, por exemplo, que quase metade das mulheres brasileiras já sofreu assédio sexual no trabalho, sendo que uma em cada seis pediu demissão do emprego por conta disso.
Nesse contexto, a SafeSpace, start-up nacional criada em março de 2020, nasceu com uma proposta inovadora: ser uma plataforma digital capaz de prevenir, comunicar e resolver problemas de comportamento no trabalho de forma rápida, prática e eficaz, substituindo os antigos e obsoletos canais de denúncia analógicos e contribuindo para a construção de uma cultura de confiança dentro das empresas.
“A maioria das pessoas ainda se sente desconfortável e insegura ao lidar com situações como assédio sexual, preconceito, bullying e casos de corrupção no local de trabalho, muito embora as empresas estejam se esforçando cada vez mais em construir um ambiente inclusivo, no qual o bem-estar de todos seja respeitado”, diz a cofundadora da SafeSpace, Rafaela Frankenthal. “A SafeSpace foi criada para conectar essas duas pontas, pois acreditamos que com o auxílio da tecnologia é possível construir um ambiente de confiança, fazendo com que as pessoas se sintam valorizadas e incluídas no dia-a-dia de trabalho, e mudar a forma com que as organizações identificam e resolvem os casos de má conduta internamente”, ressalta ela.
Desde que foi lançada, a startup vem acumulando um crescimento médio mensal próximo a 50%. A tecnologia SafeSpace já faz parte do cotidiano de grandes empresas, como Rock Content, Creditas, Incognia, Deliverycenter NotCo, Gupy e Alice. Com o auxílio da plataforma, os clientes têm obtido sucesso na solução de 70% dos casos reportados.
“Problemas de comportamento existem em todo lugar e são reflexos de questões estruturais e de desigualdade de poder. E como raramente casos de assédio ou fraude são isolados, entender o foco dos problemas ajuda as empresas a criar estratégias de mediação e prevenção muito mais assertivas”, destaca Rafaela. Segundo ela, até agora o processo de investigação de denúncias envolvendo má conduta era terceirizado e burocrático. “No ponto em que a pessoa decidia fazer uma denúncia, geralmente já era tarde demais para a empresa interferir sem causar danos à cultura e reputação da empresa”, lembra Rafaela.
Processo transparente e intuitivo
A plataforma SafeSpace guia o usuário ao longo de todo o processo, ajudando-o, inclusive, a entender se o fato que pretende relatar pode ser mesmo classificado como assédio ou discriminação. Caso decida esperar para fazer o relato, o conteúdo fica salvo com data e hora marcada de forma imutável em um ambiente em que só ele tem acesso. Quando o caso é formalizado, a fonte pode optar pelo anonimato total, não sendo possível rastrear o IP do computador na qual foi gerada.
A plataforma foi projetada para capturar todas as informações necessárias, reduzindo o tempo gasto com investigação. Por meio de um painel intuitivo, o administrador consegue gerenciar informações de maneira eficiente – traçando, por exemplo, conexões entre casos e extraindo relatórios e análises com dados brutos e compilados para obter uma visão detalhada da cultura organizacional – e pode fazer perguntas para o colaborador, mesmo em modo anônimo. Quem relatou, por sua vez, consegue acompanhar todo o processo, identificando quando seu relato foi visualizado, quando a empresa deu início à investigação e qual o resultado do processo.
Estudo de campo
A ideia de desenvolver a plataforma nasceu em 2019, quando Rafaela Frankenthal voltou ao Brasil após completar seu mestrado sobre estudos de gênero em Londres. Para testar a viabilidade do projeto e o interesse das empresas pelo produto, associou-se à colega Giovanna Sasso, especializada em design de produto, para desenvolver o projeto de um site para a SafeSpace com o objetivo de validar a demanda pela solução no mercado. Com o auxílio de influenciadoras, as duas começaram a divulgar o produto antes mesmo que ele estivesse finalizado.
Como a ideia logo chamou a atenção das empresas, Rafaela e Giovanna contataram Natalie Zarzur, graduada em Administração de Empresas, e Claudia Farias, especialista em Desenvolvimento de Sistemas, Ciência e Tecnologia, para se juntar ao time e começar a tirar a ideia do papel.
O investimento inicial no projeto foi de R$ 50 mil. Quando foi lançada, em setembro, a SafeSpace já tinha dois clientes pagantes. No mês seguinte, a empresa recebeu o primeiro investimento institucional, liderado pelo fundo MAYA Capital, que contou com outros 11 investidores-anjos, incluindo Ariel Lambrecht, fundador da 99, Ann Williams, COO da Creditas, Mariana Dias, CEO da Gupy, e Luciana Caletti, fundadora do antigo Love Mondays.
A plataforma atende a empresas de todos os tamanhos. As de grande porte podem substituir seus canais tradicionais de denúncia, enquanto as pequenas e médias, que não tinham condições de implementar algo do tipo, podem começar a tratar o problema já de forma automatizada e segura. O valor cobrado pelo produto é flexível, dependendo do porte da empresa interessada.