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Pegasus: adeus privacidade

em Tecnologia
quarta-feira, 09 de fevereiro de 2022

O Pegasus é um software capaz de invadir qualquer tipo de celular, acessando fotos, documentos e mensagens, inclusive os criptografados, como os do WhatsApp, e ainda localizar o usuário – em função dessas capacidades é classificado como um “spyware”.

Vivaldo José Breternitz (*)

Seu fabricante, a israelense NSO, diz ser o mesmo imprescindível na luta contra o crime e o terrorismo – o material de propaganda do software, cuja versão mais avançada é chamada Phantom, descreve o Pegasus como capaz de “transformar o smartphone de uma pessoa sob vigilância em uma mina de ouro para os serviços de inteligência”.

Desde 2019 já se sabia que o Pegasus vinha sendo usado para espionar políticos, funcionários de governos, jornalistas e empresários – naquele ano, um grande escândalo revelou que pessoas como a ex-presidente Dilma Roussef, o presidente francês Emmanuel Macron, o rei do Marrocos Mohammed IV e até Tedros Adhanom, diretor da Organização Mundial da Saúde foram vítimas do spyware. A polícia israelense utilizou o aplicativo para espionar o filho do antigo primeiro ministro do país, Binyamin Netanyahu e membros de seu círculo íntimo.

Agora, o New York Times revela que, apesar de o Departamento de Comércio americano ter acrescentado a NSO à lista negra de entidades envolvidas em “atividades contrárias aos interesses da política externa e segurança nacional” do país, o FBI e a CIA adquiriram e usaram o Pegasus. A CIA chegou a fornecer o software para uso de pelo menos um governo estrangeiro, o do Djibuti, país africano que o utilizou para combater dissidentes.

O governo israelense classificou a inclusão do Pegasus na lista negra, o que prejudica os negócios da empresa que o produz, como “hipocrisia”, como um ataque ao país. A NSO diz estar considerando a possibilidade de recorrer à justiça para reverter a decisão do Departamento do Comércio.

A NSO vem oferecendo o Pegasus no Brasil, não havendo informações acerca de possíveis vendas. O Ministério da Justiça abriu licitação para a compra de ferramenta desse tipo, e o Pegasus chegou a ser cogitado, porém a empresa desistiu de concorrer quando se falou de irregularidades no processo de aquisição.

Em 2019, o sistema foi empregado para tentar localizar sinais de celular das vítimas do rompimento da barragem de Brumadinho – na ocasião, foi operado por militares israelenses que participaram das buscas.

Privacidade realmente parece ter deixado de existir.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é diretor do Fórum Brasileiro de IoT.