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Mark I, Aiken e Hopper: pioneiros da computação

em Tecnologia
terça-feira, 15 de março de 2022

Howard Hathaway Aiken (1900-1973) concluiu seu doutorado em Física em 1939, na Universidade de Harvard.

Vivaldo José Breternitz (*)

Já nessa época, Aiken acreditava ser possível a construção de uma máquina que pudesse rapidamente fazer os cálculos necessários em sua área, especialmente equações diferenciais, liberando os pesquisadores de trabalho repetitivo. Aiken sabia que, pelo porte da máquina em que pensava, precisaria do auxílio de uma empresa; procurou inicialmente a Monroe Calculator Company, à época um importante fabricante de calculadoras mecânicas, que não se interessou pela ideia.

A seguir, Aiken procurou a IBM, cujo principal produto à época era um sistema que processava cartões perfurados, um descendente direto das máquinas concebidas por Herman Hollerith. O projeto de Aiken interessou à IBM, pois permitia utilizar diversos componentes dos sistemas já produzidos por ela; uma equipe formada por pessoal de Harvard e da IBM começou a trabalhar na máquina, que foi chamada Mark I e apresentada aos professores de Harvard em dezembro de 1943.

O Mark I era enorme: tinha quase vinte metros de comprimento e três de altura, sendo composto por cerca de 760 mil peças, ligadas entre si por 800 km de cabos e pesava 4,5 toneladas – segundo testemunhas, quando em funcionamento emitia um ruído parecido com o de uma sala cheia de mulheres tricotando. Era uma máquina muito confiável, no sentido de apresentar poucos problemas técnicos.

As instruções eram carregadas em fita de papel e os dados em cartões perfurados; as saídas eram impressas por máquinas de telex e cartões perfurados. Podia processar números com até 23 dígitos, executava as quatro operações e tinha sub-rotinas para operações logarítmicas e trigonométricas.

Um dos membros mais importantes da equipe de Aiken era a matemática Grace Hopper (1906-1992). Grace atuou muito tempo na área de computação, estando entre outras coisas, envolvida na criação do FORTRAN e do COBOL; foi tão importante nessa área que, a Marinha dos Estados Unidos, da qual era oficial, deu seu nome a um navio (Grace chegou ao posto de almirante).

Apesar disso, o que tornou Grace conhecida entre o público leigo foi o fato de que, quando trabalhava com o Mark I, ter removido do interior da máquina um inseto que havia feito com que a mesma parasse – foi a primeira pessoa a, literalmente, ‘debugar’ um computador.

Quando o Mark I ia ser oficialmente inaugurado, em agosto de 1944, Harvard liberou um press release acerca do assunto dando todo o crédito pela construção a Aiken. Thomas J. Watson, o principal executivo da IBM, ficou furioso, ameaçando boicotar a inauguração e projetos futuros; a turma do ‘deixa disso’ entrou em ação e a inauguração ocorreu, mas ficaram sequelas: Aiken e Watson nunca mais se falaram; anos mais tarde, Aiken recusou tornar-se consultor da IBM, função que lhe fora oferecida por Thomas J. Watson Jr., que passara a ocupar o lugar que fora do pai.

Grace e Aiken utilizaram o Mark I para produzir tabelas para a artilharia, muito usadas no final da 2ª Guerra Mundial; a máquina permaneceu em uso até 1959, quando foi substituída por equipamento mais moderno.

Aiken supervisionou a construção dos Mark II, III e IV em Harvard até se aposentar; Grace permaneceu no serviço ativo da marinha até quase os 80 anos, quando se tornou consultora da Digital (na época, uma importante fabricante de computadores), cargo que ocupou até sua morte.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor de empresas e diretor do Fórum Brasileiro de IoT.