É interessante observar o que vem acontecendo com o Whatsapp nos últimos dias. Uma mensagem aos usuários informando uma alteração de regras repercutiu mal e disparou um alarme generalizado; a mensagem diz que haverá uma maior integração dos dados pessoais com o Facebook.
Vivaldo José Breternitz (*)
Para tentar reverter a situação, o serviço de mensagens divulgou informações adicionais, que geraram ainda mais dúvidas, a ponto de Elon Musk, CEO da Tesla, ter recomendado o uso do Signal, em substituição ao Whatsapp. Advogados brasileiros dizem, inclusive, que as novas regras ferem a LGPD, legislação nacional que trata da proteção de dados pessoais.
Alguns já estão imaginando Mark Zuckerberg lendo nossas mensagens; outros, a invasão de publicidade, direcionada com base nos grupos que de que fazemos parte. Alguns amigos já nos enviaram mensagens dramáticas, do tipo “adeus mundo cruel”: “estou saindo daqui, vejo você no Signal, se quiser”.
O Signal é uma boa alternativa ao Whatsapp, em muitos aspectos melhor do que o Telegram, outra alternativa, mas nenhum dos dois ainda realmente decolou e devem existir razões para isso, apesar de a “crise diplomática” do Whatsapp estar levando uma onda de novos usuários a essas duas plataformas.
Situações semelhantes já ocorreram no passado, mas o Whatsapp sempre se manteve como líder absoluto do mercado. Campanhas para que as usuários deixassem o Facebook também não prosperaram. Quando as pessoas percebem que a quantidade de dados que fornecem ao Google usando o Chrome é realmente escandalosa e consideram a possibilidade de usar o DuckDuckGo ou o Brave, quase sempre acabam concluindo que o Google não é tão mau assim e não migram.
Não estamos minimizando o que está acontecendo, mas como nunca se registrou uma fuga realmente em massa do Whatsapp, do Facebook, do Google e mesmo da Amazon, pode-se concluir que isso acontece porque mudar hábitos, mesmo no mundo digital, é cansativo e problemático.
Essa reação de alarme generalizada não deve ser subestimada: sinais de intolerância para com as Big Techs são cada vez mais frequentes e justificados. Felizmente, parece que, embora lentamente, estamos nos tornando usuários mais conscientes.
Mas, enquanto continuarmos a clicar, sem pensar, “Aceito” cada vez que um site nos diz que compartilhará nossos dados “com alguns parceiros selecionados”, que não sabemos quem e quantos são, nossa privacidade estará condenada, e não apenas ameaçada.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.