A notícia de que o Facebook estava desenvolvendo uma versão do Instagram dedicada às crianças chegou ao grande público em março passado. A empresa confirmou a notícia, gerando indignação entre organizações voltadas a defender os direitos humanos, combater o bullying e proteger a saúde mental, todas preocupadas com os impactos gerados ao se dar às crianças ainda mais acesso às redes sociais.
Em agosto, o Wall Street Journal disse ter tido acesso a pesquisas feitas pelo próprio Facebook e que constataram que o Instagram faz mal aos adolescentes, o que aumentou ainda mais a pressão sobre a empresa. Como é comum em situações como essa, o Facebook disse que as informações publicadas pelo jornal acerca do assunto foram produto de má intepretação e deturpação dos dados da pesquisa.
Agora, a empresa diz estar fazendo uma pausa no desenvolvimento do novo aplicativo, que vem sendo chamado Instagram Kids; segundo ela, a fim de dedicar seus recursos ao desenvolvimento de ferramentas que permitam aos pais supervisionar o acesso de crianças e adolescentes às redes sociais.
Evidentemente, pretende, em paralelo, persuadir o mundo de que um aplicativo desse tipo é, de fato, uma coisa não apenas boa, mas necessária, como deixou claro o executivo responsável pelo Instagram, Adam Mosseri, ao afirmar que crianças já acessam o Instagram mentindo sobre sua idade – a idade mínima para acessar o aplicativo é 13 anos – e que, então, seria melhor desenvolver um novo produto voltado para crianças na faixa etária de 10 a 12 anos, que poderiam acessá-lo apenas sob um controle estrito dos pais.
Segundo Mosseri, o Instagram Kids não será projetado para replicar a versão adulta do aplicativo, mas será livre de anúncios e supervisionado diretamente pelos pais, que poderão controlar o tempo que seus filhos passarão no aplicativo, quem poderá enviar mensagens a eles, quem poderá segui-los e quem eles podem seguir.
Ainda segundo a empresa, ela pretende trabalhar com pais, especialistas e legisladores para demonstrar o “valor e a necessidade” do Instagram Kids, que, se lançado, obviamente tornará as pessoas ainda mais dependentes, no mau sentido, das redes sociais.
(*) – Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.