Quando um presidente é eleito, forma-se um burburinho ao seu redor – pessoas e organizações tentam se posicionar, de forma a que seus interesses sejam atendidos.
Vivaldo José Breternitz (*)
É o que está acontecendo nos Estados Unidos, onde os esforços para influenciar o presidente eleito Donald Trump, via Elon Musk, já estão começando. Há alguns dias, a ONG Americans for Responsible Innovation (ARI) pediu a Trump que faça de Musk seu conselheiro especial para a área de inteligência artificial (IA), dizendo que ele está bem posicionado para proteger a liderança do país nesse setor e garantir que IA seja implementada com segurança.
Musk tem sido um dos principais críticos de uma das líderes na área de IA, a OpenAI, que criou o ChatGPT. Musk foi um dos fundadores dessa empresa, que hoje é vista por ele como uma adversária, a ponto de, pouco depois do lançamento do ChatGPT, ter assinado uma carta pedindo uma moratória no desenvolvimento de modelos de IA generativa mais avançados, visando dar tempo para que fossem definidas regras que impedissem que essas ferramentas se tornassem ameaças à sociedade.
No entanto, os que criticam Musk dizem que essa foi uma medida tomada em função de seus interesses comerciais, já que ele também tem sua própria empresa de IA, a xAI.
A petição da ARI diz que é possível lidar com os conflitos de interesse de Musk, argumentando que com “mecanismos adequados para isso, Musk seria um ativo inestimável para ajudar o governo Trump a navegar no desenvolvimento dessa tecnologia transformadora”.
“Musk poderia emergir como um campeão pela segurança da IA na administração”, escreveu o analista de políticas da ARI, David Robusto, em um post publicado no blog da ONG.
Com os traços de megalomania característicos de sua personalidade, Musk afirmou anteriormente que se juntaria ao governo Trump em uma função criada por ele: seria o chefe de um novo organismo federal, o Department of Government Efficiency, cujo papel seria desmantelar todo o sistema regulatório americano. Informes dão conta que Musk atuará nessa área, mas de maneira mais informal.
Apesar disso, Robusto espera que Musk possa promover a segurança da IA mesmo à frente desse organismo – bastaria ser apenas ser um pouco menos duro com os órgãos que a gerenciam, como o National Institute of Standards and Technology.
Concluindo, Robusto escreveu a respeito de Musk que, com as devidas salvaguardas e sua combinação única de expertise técnica e preocupações com a segurança, o empresário poderia ser um ativo valioso no desenvolvimento de uma governança responsável de IA.
Neste momento, o que resta é aguardar, embora alguns digam que o céu não tem espaço para dois sóis, Trump e Musk.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].