O grande número de demissões acontecidas na área de tecnologia da informação em 2023 foi atribuído a questões relativas à economia e ao número excessivo de contratações durante a pandemia.
Vivaldo José Breternitz (*)
Mas agora surge uma dúvida: por que essa onda de demissões continua acontecendo, em um momento que que as big techs tiveram resultados extraordinariamente bons em 2023?
Empregos na área de TI não são mais a aposta segura que costumavam ser: segundo o portal Layoffs.fyi, desde o início deste ano, 209 empresas americanas de TI demitiram mais de 50 mil profissionais da área. No ano passado, 1.191 empresas de tecnologia demitiram cerca de 270 mil funcionários, segundo a mesma fonte.
Não são apenas startups que estão demitindo; big techs como Alphabet, Amazon, Cisco, eBay, Meta, Microsoft, PayPal e SAP reduziram suas equipes nos últimos meses e em números consideráveis.
O volume de demissões é tão grande que fica atrás apenas das acontecidas quando estourou a bolha da internet em 2001, como disse um estudo da Challenger, Gray & Christmas, uma empresa voltada principalmente a outplacement; no entanto, esse relatório traz algum alívio, pois diz que os cortes entre janeiro e fevereiro de 2024 caíram 55% em relação aos acontecidos no mesmo período de 2023.
De qualquer forma, os números são ruins para os profissionais da área, acostumados nos últimos anos a serem cortejados pelas empresas e que agora competem ferozmente pelas poucas oportunidades oferecidas.
Outra notícia ruim para esse pessoal á a estagnação em termos de salários, que vem sendo observada nos últimos dois anos. Os salários na área ainda são relativamente bons, como mostra a Comprehensive, uma empresa de inteligência na área de salários: um profissional iniciante na área de inteligência artificial pode ganhar até US$ 138 mil ao ano, enquanto um profissional em cargo de direção pode receber cerca de US$ 310 mil.
Mas se o cenário econômico parece ter melhorado e as big techs estão com muito dinheiro em caixa, por que continuam as demissões?
Segundo Jeffrey Shulman, professor da University of Washington, poucas palavras podem explicar o que vem acontecendo neste ano: preço das ações. As demissões impressionaram positivamente o mercado de ações, fazendo seu preço subir e segundo Shulman, por essa razão, os executivos dessas empresas não veem razão para parar de demitir, especialmente em casos que seus times estão um tanto inchados, em razão do grande número de contratações feitas durante a pandemia.
Deve-se considerar também que caso se consolidem novas tecnologias como inteligência artificial generativa, low code, no code e outras, desenvolvedores de sistemas podem se tornar menos necessários e as demissões serão um novo normal.
No Brasil, como um todo, as demissões devem aumentar também, principalmente em função da esperada queda do PIB, que deverá ficar ao redor de 1,7%, contra os 2,9% de 2023, embora o IBGE afirme que naquele ano haviam cerca de 1,5 milhões de vagas em aberto, especialmente em áreas como tecnologia da informação, saúde e engenharia.
Cabe registrar que há alguns dias, o TikTok demitiu funcionários no Brasil.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].