As polícias da França e da Bélgica desbarataram uma quadrilha que extorquiu pelo menos 3,5 milhões de euros de pessoas que teriam acessado imagens de pornografia infantil na internet.
Vivaldo José Breternitz (*)
Apresentando-se como policiais ou juízes, a quadrilha enviava falsas intimações por e-mail, ameaçando as vítimas com processos judiciais, de que poderiam se ver livres mediante o pagamento de multas.
A polícia disse ter prendido na 18 pessoas na França e uma na Bélgica, com idades entre 20 e 50 anos; os acusados foram conduzidos a tribunais por acusações de fraude. Uma das vítimas, e talvez mais outras seis, podem ter se suicidado, preocupadas não só com os “processos judiciais”, mas também com o fato de serem identificadas como consumidoras de pornografia infantil.
Os valores extorquidos de cada vítima, com idade média ao redor de 60 anos, estiveram entre cinco mil e duzentos mil euros, a maior parte dos quais enviados à Costa do Marfim e a outros países africanos – esquemas criminosos como esse são frequentemente originários dessa área.
O golpe começou a ser aplicado no início de 2021; até junho de 2022 cerca de 400 denúncias já haviam sido feitas à polícia francesa.
Esse problema, já suficientemente grave, está sendo aumentado pelo uso da inteligência artificial generativa para a criação de imagens falsas, mas realistas, distribuídas em fóruns da dark web, camada da internet visível apenas com navegadores especiais.
Além disso, participantes desses espaços compartilham instruções detalhados de como outros pedófilos podem criar suas próprias imagens, acabando por banalizar algo que é considerado crime em quase todo o mundo.
Espera-se que, pelo menos, a prisão desses criminosos desestimule crimes como esse.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas
