Fabio Carneiro (*)
Escola e pais devem andar juntos, sem protecionismo exagerado, deixando a carga emocional para aplicar em casa e visando o bem do aluno deve ser o objetivo final.
A pandemia, além dos inúmeros impactos negativos, também fez o papel de justificativa perfeita para inúmeras falhas já existentes em algumas empresas, departamentos e instituições, seguido pela frase: “Então, por causa da pandemia…”
Na área educacional, as escolas se viram em apuros para atender as demandas recorrentes e ainda responder a uma verdadeira avalanche de ligações, e-mails e mensagens de pais que, inseguros, degustavam um sentimento de vazio educacional, uma forte sensação de “tempo perdido” devido à mudança no formato das aulas.
Reclusos em seus lares e de mãos atadas, muitos pais perceberam que “brincar” de ensinar e exercer o ofício de professor não era algo tão simples como cobravam dos docentes, e assim, passaram a valorizar muito mais o trabalho realizado por esses profissionais dentro e fora da sala de aula. Assim como em Geni e o Zepelim, as escolas ouviram súplicas favoráveis de retorno às aulas presenciais, e no exercício da empatia veio à tona o reconhecimento da classe docente.
A rotina dentro dos lares mudou e a pressão aumentou, agravada pela carga de trabalho ou ainda pela perda dele, muitos foram obrigados a apontar os holofotes para a educação dos filhos e isso fez pais presenciarem uma atividade estudantil pífia, evidenciando o abismo existente entre as partes, algo que antes era terceirizado aos professores e às instituições de ensino, agora era obrigação direta dos pais. O lado bom é que muitos perceberam a necessidade iminente de estarem mais presentes.
Entre os menos envolvidos na vida escolar dos filhos, iniciou-se uma tentativa de encontrar um “culpado”, alguém que pudesse pagar essa conta, seguida do questionamento: Será que esse ensino remoto funciona mesmo? Ou ainda: Devo trocar de escola, já que ele não está se adaptando ao modelo on-line?
Essa reflexão está ligada ao grau de valorização da educação dentro dos lares brasileiros, geralmente baixo, e agora, essas famílias sentiram os efeitos negativos.
Para um filho que cumpria, antes da pandemia, uma rotina de estudos em um lugar adequado, tinha o respeito das pessoas para exercer as atividades, estudava distante de distrações como videogames, celulares e, principalmente, foi educado a valorizar o estudo observando o exemplo de pais presentes, certamente obtiveram resultados excelentes.
Em contrapartida, pais que não estimulam uma rotina de estudos, cedem às distrações, interrompem o estudo permutando tarefas cotidianas, veem as escolas como “depósitos” de filhos e ainda não dão o exemplo dentro de casa, certamente perderam muito tempo. A palavra-chave para essa questão é a terceirização. Essa “cultura”, aplicável em inúmeros casos, definitivamente não se aplica quando se trata da educação de filhos.
Isso ocorre porque muitos pais não compreendem o verdadeiro papel da escola. Essa falta de compreensão faz com que as instituições de ensino absorvam grande parte das demandas educacionais exigidas pelos pais que, até o presente momento, sobrecarregam a escola com exigências, cobranças e atividades que não são obrigações dos professores e coordenadores.
Parece que a pandemia veio realmente para nos tirar da zona de conforto, e esperamos que o fim de Geni e o Zepelim não se repita em relação aos professores e às instituições de ensino e, mesmo que antigo, a pandemia fez valer o ditado: Lugar de educar criança é em casa.
(*) – É professor de Física no Curso Positivo.