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em Opinião
quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Heródoto Barbeiro (*)

O furacão que atingiu as maiores empresas de capital nacional foi gerado dentro delas mesmas.

No afã de atingir dimensões gigantescas, acumular capital e remunerar os acionistas principais como marajás, foram os mantras perseguidos pelos gestores profissionais contratados. As melhores cabeças do mercado, instruídos, aprimorados nas melhores universidades do mundo, conhecedores dos mais laureados métodos de gestão se aninharam nas grandes empresas brasileiras.
Ao invés de usar todo o conhecimento adquirido para motivar uma nova revolução industrial no páis, descobriram os atalhos mais curtos da corrupção e da política. Jogaram na lata do lixo a possibilidade do país se consolidar como uma grande potência econômica embasada no avanço tecnológico, compromisso social, conquista de novos mercados com produtos de qualidade. Mancharam a marca made in Brazil. Poucas escaparam do tsunami penal e moral que devastou a praia da ética e do complience.
Os porta vozes foram treinados para não dizer a verdade. Revalidaram o vale tudo, não para vencer o concorrente, mas para roubar o povo brasileiro. Associaram-se em organizações que eram mais do que um cartel, mas um simulacro nativo da máfia. Com isso garantiam o sobre preço. Sim, por que, quem superfatura, em última análise, rouba o Estado e pune os pronto socorros, as escolas públicas, os buracos das rodovias e outros investimentos necessários para uma sociedade melhor.
Não bastava usar de todos os expedientes, lícitos e ilícitos, para burlar o pagamento de impostos. Queriam mais. Perderam o controle da ânsia de acumular a qualquer custo, incentivados pela certeza que nadariam de braçada no lodaçal de corrupção que grassou nos últimos tempos. Por muito menos marcas globais foram punidas em seus países de origem e seus gestores encarcerados sem o cipoal de recursos jurídicos que só existem em Pindorama. E que os custosos escritórios de advocacia têm um poderoso arsenal.
Philip Kotler provavelmente nunca foi estudado pela nata dos gestores envolvidos nos escândalos que se abatem sobre o mundo corporativo brasileiro. Ou esqueceram o conselho do mestre que diz que “Essas empresas deveriam usar seus valores ao recrutar seus empregados e ao lidar com clientes, vendedores e fornecedores. As empresas deveriam estar prontas a expor quedas e fazer cumprir seus valores”.
Algumas delas ostentavam em suas paredes painéis com visão, missão e valores. Enganaram a todos. Nada daquilo era para ser posto em prática. Joey Reinan lembra que os valores são a linguagem de uma organização. Se levado á sério, as empresas brasileiras envolvidas na corrupção perderam a voz. Alguns acreditaram que estavam se aprimorando em um capitalismo macunaímico, sem caráter, sem compromisso, próprio de um cenário do “faço, mas quem não faz?”
Outras marcas globais também passaram por escândalos, talvez não tão sujos como os nacionais, e conseguiram reconquistar a confiança de seus stakeholders. A ver se as marcas nacionais seguirão o mesmo caminho.
 
(*) – É jornalista, âncora do JR News e editor do Blog do Barbeiro ([email protected]).