Danielle Michaelsen Lago (*)
Aula boa é aquela mediada pelos professores e executada pelos alunos.
No mundo atual, com tanta tecnologia e diversão, como fazer um pré-adolescente, de 12 ou 13 anos de idade, acostumado com computadores, celulares e videogames de última geração se interessar e querer realmente aprender a tão difícil e temida matemática? Este é um dos muitos desafios que enfrento como professora do 8º ano do colégio Marista de Goiânia. A cada novo conteúdo, penso em como fazer com que o meu aluno deixe o videogame, quiçá o computador, para aprender matemática.
O uso da tecnologia, por meio de softwares e aplicativos, pode ser um recurso para despertar a curiosidade e a vontade de aprender. Todas as vezes que proponho uma aula com uso de celulares é certeza de sucesso, os alunos vibram e ficam em êxtase com ideia de poderem usar os seus aparelhos em sala de aula.
Os recursos são infinitos, podemos pesquisar, construir gráficos e até mesmo jogar. Os alunos adoram desafiar os colegas. Fizemos uma disputa no celular de quem resolvia uma maior quantidade de equações em menor tempo, e assim aprenderam a resolver as equações para ganhar dos colegas.
A cozinha também pode ser uma grande aliada no ensino da matemática, medidas de capacidade, massa, dentre outras podem ser facilmente exploradas por crianças nesse ambiente. Afinal quem não gosta de comer algo diferente? Foi pensando nisso que propus uma aula na cozinha do Colégio Marista. Foi solicitado aos estudantes que trouxessem sugestões de preparações (doces, sanduiches, sucos) acompanhadas de uma receita, aquela receita de família que só a mãe conhece.
De posse das receitas, estudei a viabilidade de execução, no tempo e espaço disponíveis, e propus que fizéssemos quatro receitas (pão de queijo, doce de leite ninho, brigadeiro e limonada). Só que antes, precisaríamos adaptar as receitas para a quantidade de alunos da turma e fazer a lista do supermercado. Aí é que entra a matemática, sabe aquela famosa regra de 3? Nós a utilizamos para adaptar as receitas para garantir que haveria comida suficiente para todos, e calcular a quantidade a ser comprada de cada ingrediente.
Aproveitamos a oportunidade, ainda, para relembrar as unidades de medidas, por exemplo, o polvilho que é vendido no quilo estava em gramas na receita. Fomos para cozinha e fizemos a festa! Cozinhamos, comemos e bebemos. Os alunos adoraram, sugeriram que pelo menos uma vez no mês fôssemos para a cozinha, aprenderam regra de 3 simples e relembraram as transformações de unidades de medidas.
Uma ideia mais ousada foi desafiar os estudantes a gravarem voluntariamente vídeo-aulas de assuntos que estudaríamos futuramente para que fossem utilizadas na explicação inicial do conteúdo. E não é que apareceram voluntários? Não apenas um ou dois, foram muitos! Me surpreendi, foi tamanha a demanda que faltaram assuntos para propor a todos.
Os alunos estudaram o tema proposto, montaram e gravaram as aulas a serem apresentadas, vibraram com cada apresentação e se entusiasmaram com a proposta. Ouvi vários relatos de como os colegas são bons professores, até mesmo melhores que a própria professora. Os vídeos foram o ponto de partida para que os estudantes aprendessem assuntos complexos como produtos notáveis, fatoração e geometria plana.
Penso que aula boa é aquela mediada pelos professores, executada pelos alunos. Eles devem ser os protagonistas do processo de ensino aprendizagem, só assim temos uma chance de que eles deixem seus vídeos games, computadores, celulares para aprenderem.
(*) – É professora de matemática do Colégio Marista Goiânia, do Grupo Marista.