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A revolução desindustrial

em Opinião
quinta-feira, 06 de outubro de 2016

Heródoto Barbeiro (*)

O Brasil vive um processo de revolução desindustrial. É claro que é apenas uma expressão para retratar o encolhimento da indústria em geral no Brasil.

Ela sofreu um desmantelamento precoce. Promissora na década de 1980, entrou em declínio e hoje representa pouco mais de 10% do PIB. Na década de 1970 correspondia a 27,4 %. O processo de desmontagem teve início com os choques econômicos vividos pelo mercado nacional nos anos 1980, se intensificou com a abertura comercial no começo dos anos 1990, seguido pelo abandono das políticas desenvolvimentistas e pelo emprego da taxa de câmbio como ferramenta no combate à inflação.
Mais recentemente o Brasil voltou a se concentrar na venda de produtos primários, agora chamados de commodities, centrados no agro negócio. O dólar valorizado foi uma verdadeira estaca no peito da indústria uma vez que estimulava a importação de produtos com vantagem de preço e arruinava os produtos brasileiros que chegavam mais caros no mercado mundial. Perdemos a competitividade. Foi o fim da velha política de substituição das importações.
Um dos mitos cultuados ao longo do século 19 é que a agricultura era a desgraça do Brasil. Até a saúva era menos perniciosa. Graças a ela o pais vivia pendurado na exportação de produtos primários de baixo preço e importador de produtos industrializados de alto preço. A essa diferença era responsabilizada pelos constantes déficits na sua balança comercial. Por sua vez arrastava a balança de pagamentos também para o brejo.
Em outras palavras essa situa­ção levava o Brasil a recorrer a empréstimos internacionais para cobrir esses rombos. Logicamente a dívida externa aumentava, os juros iam atrás e a confiança no pais caia na proporção inversa do aumento da dívida. Portanto o culpado era o campo, que impedia a população vir para as cidades e se alistar como mão de obra barata para indústrias que ou não existiam ou eram incipientes.
Era preciso industrializar a qualquer preço, ainda que para isso fosse necessário inventar fábricas fantasmas como ocorreu durante o governo provisório da república, através da política do encilhamento, comandada pelo ministro da fazenda, Rui Barbosa. Foi uma catástrofe no finalzinho do século 19.
A revolução industrial brasileira está associada ao governo de Getúlio Vargas, tanto na fase ditatorial como na democrática. Pela primeira vez se fazia um planejamento para se construir indústrias de base, sem as quais tudo ficaria igual. Houve forte intervenção do Estado, que era o modelo vigente da época. A conjuntura da guerra favoreceu o esforço industrial brasileiro.
Dificuldades de importação por causa do conflito nos mares, a venda de materias primas estratégicas para a guerra, a cessão de bases militares estrategicamente localizadas e os empréstimos internacionais deram um avanço consistente para o processo de industrialização. Daí pra frente uma aliança entre a burguesia nacional e o Estado deram uma arrancada. Na década de 1960 chegaram as multinacionais que receberam apoio dos governos e se especializaram na indústria de transformação.
A rainha da coroa era a indústria automobilística. A mesma que tem seus níveis de venda mais baixos na atualidade.

(*) É escritor e jornalista da RecordNews e R7.com