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Limite crítico

em Opinião
terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)

Atualmente, com a forte turbulência econômica e política tudo é preocupante. Não sabemos o que realmente está se passando.

Por certo há muitas lutas pelo poder nos bastidores. O Brasil gasta acima do que arrecada, pagando juros anormais e está no limite crítico da dívida. O país precisa de um mínimo de paz para se tornar uma nação de verdade e sair da mão dos aproveitadores que só causam ruína. Equilíbrio é a palavra-chave nas contas internas e externas, e na produção e consumo.

Capitalismo de mercado ou de Estado? Ambos dependem do ser humano e suas metas. Com os homens do mercado no comando, o alvo é maximizar o lucro e o domínio, o que afeta a liberdade. Com os homens do Estado no comando, a estratégia para conquista de mercados é avassaladora, perde-se a liberdade, a criatividade e o anseio para conhecer o significado da vida ficam sufocados. Mas isso também está acontecendo no mundo dirigido pelo mercado com o cultivo da indolência e a robotização dos seres humanos. Com a falta de “coração” os homens de cérebro dominam.

Afastando-se do eu interior, o coração, o ser humano se desumaniza e pode provocar a destruição do planeta. O mundo precisa de liberdade e responsabilidade para que o ser humano possa alcançar o lugar que lhe cabe, buscando o equilíbrio nas relações entre os povos, possibilitando, com isso, produzir, comercializar, preservar, empregar, consumir, evoluir.

Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos, surge como um líder carismático que motiva os norte-americanos a restaurarem a América. Fala do câmbio, mas a desordem vem desde 1971 com o abandono de Breton Woods, sem que se estabelecesse um sistema adequado de paridades. Os interesses se consolidaram no sentido de aproveitar as condições favoráveis para fazer da Ásia a grande fábrica, gerando lucros para corporações e reserva de dólares na China. Agora as consequências estão criando enormes dificuldades num mundo endividado, desigual e com poucos empregos.

Quando a produção industrial foi deslocalizada, poucos se preocuparam com as consequências; os custos baixaram, os lucros melhoraram e o consumidor tinha preços melhores enquanto o câmbio era manipulado. Agora há desemprego e desesperança nas ruas. Sem humanização espiritualizada da forma de viver não haverá saída.

Em recente artigo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso analisou as transformações de nossa época, ressaltando que “as propostas para o futuro devem olhar as necessidades concretas das pessoas”; mas isso é o que a classe política deveria ter feito desde sempre. A credibilidade só advirá quando a ação revelar que há estadistas sérios no poder atuando para a construção que visa a melhora geral.

Ninguém pode se isentar de sua responsabilidade pessoal, nem os congressistas nem os juízes. O poder na mão de um só sempre foi danoso pela oportunidade de abusos. Tem de haver limites e responsabilização pelas decisões pessoais ou no exercício do cargo. Uma reestruturação geral deve se iniciar com a reestruturação do ser humano que, se julgando dono do planeta, criou leis e normas com a sua vontade egocêntrica e restrita, desprezando as leis que regem a vida e propiciam o progresso e o desenvolvimento de forma equilibrada.

As novas gerações nada diferem das anteriores; o problema está na estruturação do cérebro, mais mecanicista, influenciada pelas novas tecnologias de comunicação. Estagnada e com os talentos do espírito atrofiados, a humanidade se encontra muito abaixo do lugar onde deveria estar, persistindo no erro quanto ao preparo dos jovens. Para que haja melhora efetiva é preciso reconhecer que trilhamos caminhos errados e devemos buscar o aprimoramento da nossa espécie.

(*) – Graduado pela FEA/USP, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). Twitter: @bidutra7.