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Gestão de Pessoas: como as startups podem inspirar essa jornada?

em Opinião
quarta-feira, 24 de março de 2021

Marcelo Furtado (*)

A área de Gestão de Pessoas sempre buscou ter uma posição mais estratégica nas empresas.

O momento atual, em que há inovações constantes e os profissionais precisam ser flexíveis para lidar com incertezas, representa uma grande oportunidade. Porém, é importante assumir um espírito de startup e abandonar ideias e conceitos ultrapassados que estão enraizados. Por definição, startups são empresas que acabaram de nascer, estão voltadas à solução de algum problema e precisam contornar grandes limitações para fazer acontecer.

E só é possível contornar essas limitações com muita inovação. Não há nada de romântico nisso, a inovação, no fundo, aparece, muitas vezes, quando as empresas não têm dinheiro para fazer do jeito tradicional. Para conseguir evoluir, precisam buscar formas criativas e velozes para aprender, encontrar soluções e inovar.

Uma empresa tradicional é um transatlântico, enquanto uma startup é uma lancha. A lancha tem menos força e autonomia, além de resistir menos às turbulências.

Por isso mesmo, precisa percorrer outras rotas que um transatlântico não precisa ou não pode percorrer. No mundo das startups, esse percorrer outras rotas se transforma em fazer mais com menos. A Gestão de Pessoas pode e deve se aproveitar dessa mentalidade para ser mais relevante e preparar as empresas de todos os portes para novos tempos. Os novos tempos, acelerados pela pandemia, são tempos de agilidade e flexibilidade.

Assim que foi preciso colocar os colaboradores em home office, as empresas menos flexíveis enfrentaram sérias dificuldades. Quem conseguiu se adaptar rápido manteve sua produtividade e sentiu menos as turbulências. Agilidade e flexibilidade vão na contramão do conceito tradicional de qualidade. Na indústria, qualidade significa fazer algo de forma padronizada, com consistência na entrega. E faz muito sentido, em uma linha de montagem, os processos precisam ser sempre os mesmos e os insumos usados têm que ter as mesmas medidas para que o resultado final seja constante.

Um carro, por exemplo, precisa ser entregue com todas as peças no lugar e funcionando perfeitamente. No mundo pós-pandemia , porém, qualidade tem mais a ver com a solução de problemas. Como os problemas sempre mudam, as respostas também precisam ser diferentes e para estarem preparadas para esse mundo, as empresas precisam evoluir constantemente, aprendendo a todo momento.
Isso significa que os erros virão, é parte do processo. Mas o erro não pode ser visto como ignorância ou incompetência, e sim como aprendizado.

Só é possível fazer mais com menos se existe um ambiente propício ao erro, em que se tem disposição de mudar rápido para resolver problemas específicos. Sendo assim, é possível crescer exponencialmente, errando muito e errando sempre, mas errando para melhorar cada vez mais. Uma empresa em que o erro é recriminado se torna, com o tempo, um ambiente de ansiedade e aflição. Nesse lugar, ninguém testa nada, não se inova. Já onde o erro é tolerado, mas não existe nenhuma responsabilidade pelo erro, é um ambiente de baixa produtividade.

A Gestão de Pessoas precisa incentivar as empresas a criarem um ambiente de alta performance, como é o ambiente de uma startup. A melhor maneira de fazer isso é dando responsabilidade às pessoas. Cada colaborador precisa ver as consequências de seus atos, mas precisa ser encorajado a correr riscos. E isso só acontece em ambientes em que a liderança sabe as perguntas e trabalha para obter respostas do grupo. Dessa forma, existe a discussão de ideias e abertura para o erro. O bom líder é o que tem boas perguntas, e não boas respostas .

Estudos mostram que não existe inovação sem diversidade. Se 10 pessoas em uma sala concordam com uma opinião, ou se todos têm a mesma visão, na verdade há nove pessoas a mais que o necessário. Trazer visões diferentes é essencial para empresas inovadoras, é isso que faz entender a fundo o cliente e encontrar mais respostas para as perguntas importantes. Isso não depende necessariamente de grandes revoluções. Na realidade, é um trabalho de formiguinha, gerando mudanças em pequenas questões do dia a dia, que vão transformando a mentalidade e colocando a empresa em um novo jogo.

Por isso, antes de pensar em derrubar o que existe para começar do zero, procure resolver os problemas existentes, um por vez, com soluções simples e práticas.
Cada empresa possui um problema diferente, e por isso o RH tem uma folha em branco a ser preenchida, não um playbook a ser seguido e isso é 100% startup. Uma nova empresa não segue o manual, ela constrói o caminho o tempo todo. A transformação da Gestão de Pessoas depende de reescrever os caminhos a partir dos problemas que surgem.

De preferência com passos curtos e rápidos, resolver vários pequenos problemas sucessivamente faz mais pela cultura corporativa do que criar um grande projeto monolítico que mostrará resultados apenas em alguns anos. Os conceitos das startups são simples e servem muito bem para o dia a dia da área de Gestão de Pessoas. Foque na solução de problemas, tenha ciclos curtos e consecutivos de trabalho, dê feedback constante, seja rápido, erre e aprenda logo, acumule e compartilhe conhecimento.

A grande mágica de agir como uma startup é que não existe mágica. É fazer o simples, com consistência e constância. Um passo hoje, mais um amanhã, outro depois e em um ano, já caminhou para longe.

(*) – É CEO da Convenia (www.convenia.com.br).