Marília Cardoso (*)
Empatia é uma palavra em alta. O tema, que já virou até capa de revista, tem sido amplamente estudado por especialistas do mundo todo.
Felizmente, assim como muitas outras habilidades, ela pode – e deve – ser desenvolvida. A definição mais comum para o termo é “colocar-se nos sapatos” do outro. A ideia foi levada tão à sério que criaram o Museu da Empatia, uma exposição itinerante que inclusive já esteve no Brasil. Nela, um container imita uma caixa de sapatos. Dentro, centenas de pares de todos os tamanhos e modelos podem ser encontrados.
Quem visita esse museu é convidado a escolher um par de sapatos qualquer para calçar. Junto, recebe um fone de ouvido. Enquanto caminha nos sapatos de um desconhecido, ouve um relato sobre a história do dono deles. Fatos emocionantes não faltam nessa experiência. Em meus treinamentos costumo sempre mostrar um vídeo que exibe um cachorro tentando atravessar uma ponte de madeira ao lado de sua tutora. Morrendo de medo, ele se abaixa e fica imóvel.
Empática, em vez de simplesmente colocá-lo no colo, ela se abaixa e, sobre quatro apoios, atravessa a ponte dando confiança ao amigo, que se ergue e começa a segui-la. Uma situação como essa nos mostra a importância de aprendermos a olhar a partir das lentes do outro. Se eu fosse um cachorro e estivesse com medo, o que gostaria que fizessem?
Ao carregá-lo no colo, aquela tutora estaria reforçando uma incapacidade do cão, em vez de mostrar a ele que era possível seguir em frente com suas próprias patas. Quantas vezes nós anulamos ou desprezamos o outro tomando decisões apenas sob o nosso ponto de vista? Quantas decisões radicais são tomadas apenas pelo fato de não sermos capazes de parar por alguns minutos e exercitar a empatia? Como o mundo seria diferente se fossemos mais empáticos.
Ouvi uma história quando criança que me marcou muito. Certa vez, um homem que acompanhava a agonia de uma larva no processo de metamorfose para se transformar em uma borboleta, resolveu interferir. Com uma tesoura, cortou as partes que a prendiam, imaginando estar sendo muito útil e bondoso. O resultado, é possível imaginar. Como não viveu o processo de metamorfose, ela se tornou uma borboleta incapaz de voar.
Já parou para pensar quantas “borboletas” impedimos de voar pelo simples fato de acharmos que sabemos o que é melhor para elas? Infelizmente, nossas suposições e “achismos” fazem com que tomemos decisões equivocadas. Por isso, antes de “achar” qualquer coisa, precisamos desenvolver o hábito de perguntar, observar e se colocar sob a perspectiva do outro.
Recentemente, li uma reportagem que me chamou a atenção. Uma escola de Santa Catarina criou a “Feira da Empatia”, cujo objetivo era permitir aos alunos vivenciarem situações a partir do olhar de um idoso, um deficiente ou mesmo um refugiado. Criativos, os professores propuseram exercícios como subir escadas usando pesos nos tornozelos para proporcionar a experiência física de um idoso.
Para se sentir na pele de um refugiado, os alunos sentavam em colchões infláveis usando óculos de realidade virtual que simulavam uma fuga em alto mar. Vivências como essas nos possibilitam desenvolver a empatia até um ponto em que ela se torne algo natural e intrinsecamente humano.
Em mundo líquido, onde as coisas e relações são tão efêmeras que não há tempo suficiente para se solidificar, se colocar no lugar do outro é mais uma necessidade, é uma condição para uma convivência harmoniosa e de respeito mútuo.
(*) – Jornalista, com pós-graduação em comunicação empresarial, MBA em Marketing e pós-MBA em inovação, é consultora na Palas, consultoria de inovação e gestão (www.gestaopalas.com.br).