Heródoto Barbeiro (*)
Não é fácil aceitar mudanças. Nem individual, nem coletivamente. A posição de conforto em uma determinada situação ou realidade é o que todos pedem todos os dias.
Não se leva em consideração que isto é frágil, isto é, mais cedo ou mais tarde vai ter que se adaptar a uma nova realidade, quer queiram, quer não. Obviamente que há reação à mudança e a argumentação é proveniente do passado, portanto totalmente inadequada para avaliar o futuro. A disposição para se aceitar novas ideias e suas consequências não é suficiente, é preciso um esforço maior, o de abandonar as ideias e concepções antigas.
A resistência se faz com argumentos poderosos e que estão arraigados na sociedade e são aceitos, de uma forma geral, por todos. Por isso os que propõem mudanças são perseguidos, caluniados, e muitas vezes condenados ao ostracismo. Lutam contra a corrente, não se conformam em correr no meio da manada em direção a um desastre anunciado. Portanto liderar o processo é um trabalho árduo, ingrato e é preciso acima de tudo convicção que se muda para o bem estar de todos.
Hoje se vive muito mais do que no passado. A expectativa de vida no Brasil em 1960 era de 55 anos, em 2016, 75. De acordo com a lei da previdência, um contribuinte depois de 35 anos se aposentava. Se começasse aos 14 anos, com 49 estaria recebendo os “proventos “. Segundo a média de vida ficaria 6 anos aposentado. Com o mesmo cálculo hoje, ou seja, se aposentar com 49 e viver até os 75, em média, ficaria com 26 anos de aposentadoria. A tendência de se viver cada vez mais, continua, felizmente.
O sistema brasileiro para se manter em pé precisa da contribuição mensal de seis pessoas, para pagar a aposentadoria de uma única. Isto era possível quando, a taxa de fecundidade, em média, era de 2,3 filhos por mulher. Atualmente é de 1,2 e continua caindo por uma série de razões. As famílias com muitos filhos são um fenômeno do passado, não do presente. Em 2050 serão apenas dois contribuintes da previdência para cada aposentado.
O sistema vai se manter de pé? O Estado entraria com a diferença que já falta para cumprir o que está na lei atual? No bojo desses números o debate é se é necessário ou não instituir uma idade mínima para homem e mulher se aposentarem. Como se explica que os servidores do Estado conseguiram condições para se aposentar muito mais favoráveis do que os empregados das empresas?
A elite nacional tem duas caras. Enquanto empresária, urbana ou rural, pressionava para que a lei fosse restrita e sua contribuição a menor possível. Os fazendeiros desde a época colonial nada contribuíam. No entanto quando esta mesma elite tomava conta do governo, usava os recursos do Estado, e não os seus, para distribuir benesses. Não saia do seu bolso, mas do contribuinte, portanto era pródiga, uma forma de ter controle do aparelho estatal, nomear apaniguados e se locupletar das oportunidades de negócios públicos.
Aposentadoria com o valor do último salário, reajuste para aposentados como os da ativa, poucos anos de contribuição, quinquênios, férias de 60 dias para alguns, acumulação de penduricalhos isentos de imposto de renda e contribuição previdenciária e por aí vai. Portanto como uma deusa de duas faces a elite sempre teve duas atitudes registradas na história. Até o momento presente quando a fragilidade do sistema que montou se esgotou e tem que ser substituído por outro. Qual?
Está nas mãos da sociedade brasileira. Como um todo.
(*) – É âncora do Jornal da Record News, tv aberta de notícias.