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Caso ‘O outro lado do paraíso’: para que serve o coaching afinal?

em Opinião
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Marcos Guglielmi (*)

Essa semana foi marcada pela polêmica envolvendo a novela da TV Globo “O outro lado do paraíso”.

Para aqueles que não acompanham a novela, a polemica ganhou força nas redes sociais e notícias do país todo. Na trama ficcional de Walcyr Carrasco, a personagem Laura, interpretada pela atriz Bella Piero, foi abusada durante a infância pelo padrasto, o que gerou na um trauma profundo que a afeta, sobretudo, em momentos íntimos.

Buscando melhorar, ela foi indicada a se consultar com uma advogada especializada em hipnose e coaching, e foi aí que a polêmica começou. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) se pronunciou através de uma nota informando que “uma abordagem equivocada de traumas pode gerar consequências graves”. Para eles, tratamentos desse tipo não estão na alçada de um coach, o que está correto, eu como coach posso corroborar isso.

O CFP afirmou que esse tipo de trauma, um problema de saúde, demanda tratamento de profissionais de psicologia, e em outros casos de psiquiatria. A confusão vem porque muitos não sabem o que é o processo de coaching e para que ele serve, gerando ideias enganadas que muitas vezes são reiteradas por maus profissionais. O coaching é o processo pelo qual o cliente (chamado de coachee) é apoiado por um coach no seu desenvolvimento comportamental, de suas competências e habilidades para extrair seu máximo potencial e alcançar seus objetivos pessoais e profissionais.

O processo de coaching tem como foco principal o atingimento de metas, um trabalho que envolve o esforço de uma mente saudável, e não debilitada por um problema de saúde. O processo de coaching é variado em suas aplicações, mas nesse tipo de caso um coach pode, no máximo, apoiar as atividades que envolvem o tratamento. Por exemplo, um cliente em tratamento precisa buscar e manter uma terapia em grupo para tratar determinado transtorno. O coach pode apoiá-lo e mantê-lo focado nessa tarefa, mas nunca indicará nem fornecerá o tratamento. A linha guia é o psicólogo.

A diferença entre o coach e o psicólogo é muito grande. O coach está mais focado em apoiar o cliente a atingir metas, como, por exemplo, alcançar determinado cargo dentro da sua carreira, melhorar o seu tempo, alcançar um nível alto de vendas, liderar melhor uma equipe, atingir uma meta pessoal. Não sou psicólogo, mas entendo que eles estão direcionados a tratar outro tipo de problema, os ligados à saúde.

A situação da novela teve muita repercussão. A emissora se pronunciou afirmando que a novela é “uma obra de ficção”, o que é verdade, há certa liberdade criativa, mas em casos como esse, principalmente considerando o histórico de produções semelhantes, mesmo a ficção ganha um peso de responsabilidade sobre o que dá a entender. As novelas chegam ao brasileiro mais distante, porém muitas notícias e esclarecimentos não têm esse mesmo alcance, então é preciso tomar cuidado com o ruído gerado.

Apesar disso, meu papel aqui é de esclarecer a minha profissão e sua aplicabilidade, buscando fazer a minha parte em instruir e direcionar. O processo de coaching é um serviço relativamente novo, e é preciso que fiquem claros os seus objetivos. Ele é indicado para quem precisa de apoio para alcançar objetivos que exigem níveis mais elevados de disciplina, envolvimento e foco. É importante que quem procure um coach verifique que tipos de resultados seus clientes têm obtido com o seu apoio.

Também deve-se checar se o coach está habilitado para prestar coaching no nível que o cliente precisa. Hoje há uma quantidade enorme de pessoas oferecendo este serviço devido à sua popularização. Há que se ter cautela na contratação deste profissional, pois há muitos que não estão preparados para entregar aquilo que estão prometendo.

Desconfie, sobretudo quando se promete algo que não é a proposta da profissão.

(*) – É empresário e sócio fundador da ActionCOACH São Paulo (https://acsaopaulo.com.br).