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A vida com câncer de mama avançado

em Opinião
segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Maira Caleffi (*) e Luciana Holtz (**)

Existe vida após o diagnóstico de câncer de mama metastático. A doença, mesmo em sua fase mais avançada, não é uma sentença de morte.

Trata-se, sim, de um forte adversário. Mas essa realidade está mudando graças às armas que temos para lutar contra o tumor. Hoje é possível viver anos a mais nessa fase da doença. Mais tempo é o que queremos e o que precisamos garantir às pacientes com câncer de mama metastático.

Existem casos em que a demora no acesso aos exames de imagem, como mamografia e biópsia, pode ser a causa do atraso na detecção do câncer de mama. Somente este ano, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima que sejam descobertos 57 mil novos casos de câncer de mama no País – é o tipo mais comum entre as mulheres no Brasil, exceto o de pele não-melanoma.

Mais de 50% dos casos da doença no sistema público de saúde já são descobertos em estágios avançados. Em 30%, a doença progride para o estágio metastático. Vale reforçar que o diagnóstico precoce ainda é nossa melhor opção para curar o câncer de mama. Mas não podemos esquecer das pacientes metastáticas.

O fato é que muitas mulheres vivem com câncer de mama metastático e pouco se fala sobre isso. Recente pesquisa do Instituto Datafolha revelou quase metade dos brasileiros desconhece a doença.

Como instituições representantes dos pacientes e defensores dos seus direitos, lutamos para dar às mulheres mais tempo para viver. Isso só é possível se elas tiverem acesso aos tratamentos adequados. O avanço científico viabilizou novas linhas de tratamento contra o câncer – por exemplo, os medicamentos que atacam prioritariamente as células tumorais.

Infelizmente, o acesso a esses tratamentos é limitado, principalmente para as mulheres atendidas pelo sistema público de saúde. Ao contrário dos estágios iniciais, em que o SUS oferece terapias-alvo para alguns tipos da doença, na fase metastática, é disponibilizada apenas a quimioterapia, sem respeitar as características específicas da célula tumoral.

Ao médico cabe a responsabilidade de informar à paciente que, embora existam tratamentos mais adequados, estes não estão disponíveis dentro do sistema público, condição estabelecida no código de ética médico. Em muitos casos, essa informação não chega à paciente.

Entendemos o desafio da saúde pública no Brasil e a necessidade de atender as várias patologias da população que depende do SUS. Também entendemos a necessidade de fazer mais com menos. No caso do câncer metastático, a luta é pelo controle dessa doença por meio de terapias inovadoras. A cada dia que esperamos para discutir como tornar esses tratamentos acessíveis, mais mulheres perdem a luta contra o câncer de mama metastático.

O papel do SUS é atender à saúde dos brasileiros em qualquer etapa de uma doença, e não só quando podem ser curadas. Os avanços da medicina comprovaram que hoje é possível controlar o câncer de mama metastático. Precisamos dar essa chance para todas as mulheres. Nossa luta é contra a doença.

Lutamos por mais tempo, mais oportunidades de ver o filho crescer, o neto se formar ou mesmo viver o sonho ainda não realizado.

(*) – É presidente da Femama.
(**) – É presidente do Instituto Oncoguia.