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A resposta chinesa e as lições sobre como reagir a uma pandemia

em Opinião
sexta-feira, 15 de maio de 2020

Davi Wu (*)

O epicentro do primeiro caso oficial identificado do novo coronavírus aconteceu na cidade de Wuhan, na província chinesa de Hubei.

Após o diagnóstico fora da normalidade de diversos casos de pacientes com sintomas respiratórios que indicavam um novo surto de pneumonia, o governo chinês decidiu investigar a situação. Rapidamente veio à tona a descoberta de um novo tipo de coronavírus, com alto poder de transmissão, e em 31 de dezembro do ano passado, o primeiro caso oficial de contaminação foi divulgado.

Já no primeiro momento, o governo chinês tomou diversas decisões restritivas para conter o avanço do vírus internamente e em território internacional, com o agravante da proximidade do maior e mais importante feriado nacional da China, o Ano Novo do calendário lunar, quando mais de 800 milhões de turistas chineses se deslocariam pelo mundo e principalmente pelo país continental asiático.

Por se tratar de um país caracterizado por um histórico de guerras e escassez em um passado não muito distante, a China sempre esteve preparada com planos de contingência, e neste caso não foi diferente. Rapidamente as autoridades identificaram o epicentro do surto e fecharam as fronteiras e acessos, estipulando uma quarentena total. Preocupados com o crescimento exponencial dos infectados, em poucos dias as medidas atingiram todo o território chinês, colocando o país inteiro em lockdown (paralisação dos fluxos de deslocamento).

Juntamente à quarentena e ao isolamento social, as autoridades chinesas tomaram uma quantidade considerável de ações com o objetivo de minimizar o impacto econômico nos setores mais afetados. Políticas nacionais de incentivo ou até mesmo isenção fiscal foram aprovadas com efeito imediato, visando a auxiliar empresas diretamente afetadas pelo vírus e também aquelas que fornecem insumos para mitigar e combater a doença.

Desde então, tudo que está relacionado direta ou indiretamente com o objetivo de controlar o vírus recebe tratamento tributário preferencial. Os governos locais também contribuíram, com a introdução de incentivo fiscais e programas de isenção de impostos para apoiar empreendedores e comunidades, com foco principal na redução dos efeitos sentidos por pequenas e médias empresas. Em áreas como Chengdu, por exemplo, o governo pretende acelerar o desenvolvimento de determinadas indústrias, como a operacionalização da tecnologia 5G.

Em Hong Kong, para reduzir o custo de financiamento das empresas, bancos introduziram empréstimos com juros baixos de até 2 milhões de HKD (moeda oficial de Hong Kong), tudo isso totalmente garantido pelo governo. Além disso, medidas como subsídios de aluguel por até seis meses estão sendo oferecidas a empresas locais de reciclagem, além da redução de 50% do aluguel em propriedades do governo, entre outras isenções temporárias.

Com efeito imediato, as taxas de registro e abertura de empresas foram zeradas até 2021 em conjunto com a isenção por quatro meses de 75% das tarifas comerciais de eletricidade, água e esgoto. Neste momento de crise, o governo, a população e a comunidade de empresários da China têm impressionado o mundo com a rapidez, disciplina, cooperação e otimismo, sem precedentes, com os quais estão lidando com a pandemia do novo coronavírus.

Na América do Sul, embora os efeitos do surto da COVID-19 tenham ocorrido um pouco mais tarde, a maioria dos países já está tomando uma série de precauções necessárias para retardar o avanço do vírus, seguindo as orientações de especialistas para diminuir a curva de contágio, especialmente, com a implementação de quarentenas obrigatórias e isolamento social preventivo.

Da mesma forma, para mitigar o impacto da interrupção na atividade econômica como resultado dessas medidas, os países estão buscando maneiras de aliviar a situação das empresas, principalmente, as pequenas e médias, por meio de alternativas econômicas que variam entre isenções fiscais, créditos brutos e até assistência financeira para cobrir salários.

Embora o cenário ainda seja delicado, a experiência inicial dos efeitos desse novo vírus em outras sociedades do mundo e as decisões tomadas para mitigar o crescimento da pandemia, sejam elas certas ou erradas, foram úteis para nutrir as determinações que os países da América do Sul seguiram ou ainda seguirão diante deste evento histórico. Os impactos ou efeitos dessa pandemia ainda devem ser replicados pelos próximos meses, afetando decisões e alterando estratégias que, até então, eram os pilares para o desenvolvimento de diversas empresas.

Ainda não se sabe exatamente o que mais irá mudar nessa crise, mas sabe-se que o mundo não será o mesmo novamente e que cada nova experiência será necessariamente um novo aprendizado para o futuro.

(*) – É sócio-diretor responsável pela prática chinesa da KPMG no Brasil e América do Sul.