Benito Pedro Vieira Santos (*)
As previsões são preocupantes para o segundo semestre; analistas já projetam uma escalada que pode levar a uma quebradeira recorde de empresas. A princípio, podemos concluir que a pandemia é o grande gerador de toda a crise, contudo, em muitos casos se observa que a crise foi apenas o que faltava para “transbordar o copo”, pois as empresas já enfrentavam dificuldades. Fato é que quem se encontra nessa situação terá que agir muito rápido, caso contrário, não conseguirá retomar sua operação.
Assim fica a dúvida: o que fazer? Como saber se a Recuperação Judicial é o melhor caminho para a continuidade do seu negócio? Inicialmente temos que atualizar e analisar as métricas da empresa. Como vivemos um momento único, as informações anteriores (antes da pandemia) não servem para indicar qual o melhor caminho para o momento, a decisão deve ser tomada após atualização de todos os números da empresa e posterior análise criteriosa do atual cenário econômico e financeiro.
Não poucas vezes, somos chamados para operacionalizar o pedido de recuperação em uma determinada empresa, pois a orientação do jurídico é clara: a única saída é adentrar com o pedido e dar um “fôlego” ao caixa da empresa que não comporta todos os compromissos assumidos. No entanto, a Recuperação Judicial é algo muito sério, não pode ser levada adiante apenas para dar um “fôlego” imediato no caixa sem uma estratégia clara de como a empresa dará continuidade na sua operação.
O índice de empresas que não conseguem se recuperar é astronômico, a meu ver por dois motivos:
1) Recuperação sem a reestruturação: é simplesmente adiar a falência da empresa, portanto, por mais prazo e deságio que possa se conseguir num processo de recuperação judicial, se não houver estratégia para gerar caixa, será inócua.
2) Falta de entendimento do atual cenário econômico e financeiro do mercado que a empresa está inserida, pois um outro fator que leva a quebra é o “time” do pedido. Muitos empresários adiam a tomada de decisão e quando não veem mais saída entram em desespero e aceitam ingressar com pedido, que em linhas gerais acontecem da “noite para o dia”, sem nenhum planejamento prévio.
Eis, na minha opinião os dois principais motivos de um pequeno percentual das empresas conseguirem entrar e sair de um processo de recuperação judicial mantendo a perenidade de seu negócio. Quando a empresa possui suas métricas gerenciais e contábeis devidamente atualizadas, principalmente fluxo de caixa e demonstrativo de resultado, o problema é detectado com antecedência, tempo suficiente para a elaboração de uma estratégia que abrange principalmente a negociação com os principais credores e a redução drástica de sua atual estrutura.
A pandemia não pode ser considerada a única culpada pela possível quebradeira que está por vir, o colapso no caixa da empresa só acontece quando não se tem as informações corretas, ou quando as tem e não se planeja de como agir no momento em que o dinheiro ficar escasso. Independente do momento que esteja vivendo, não deixe sua empresa desorganizada, exija de sua equipe que as métricas sejam mantidas, mesmo em home-office ou com redução de carga horária, informação correta, análise correta, só pode resultar em decisão correta.
Com os anos que atuo como especializada em reestruturação de empresas, recuperação negocial, posso afirmar que os frutos desses trabalhos são colhidos face às informações compiladas por uma equipe competente, que detecta num curto espaço de tempo o seu atual momento econômico e financeiro e que ajuda a direcionar a empresa a tomar a melhor decisão, frente ao que está por vir.
(*) – É especialista em Reestruturação de Empresas e sócio da Avante Assessoria Empresarial (http://www.avanteadm.com.br/).