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Agrava-se a falta de profissionais de tecnologia da informação

em Mercado
quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Vivaldo José Breternitz (*)

Nossas empresas têm se queixado muito acerca das dificuldades para contratar pessoas para a área de Tecnologia da Informação (TI). Temos a percepção de que essas dificuldades não se devem apenas ao aumento da procura por profissionais dessa área, mas sim a um conjunto de fatores acerca dos quais vale a pena refletir.

O primeiro desses fatores é o problema de imagem: trabalhar em TI implica em encontrar formas criativas de resolver problemas, trabalhando em equipe; apenas essas características deveriam atrair jovens inteligentes e motivados. Mas o trabalho na área é frequentemente retratado como o domínio de programadores do sexo masculino, taciturnos e solitários, trabalhando sempre pelas madrugadas e movidos a café, uma caricatura que desanima a muitos.

Também é visível a falta de correspondência entre o que os alunos aprendem nos cursos da área e o mundo das empresas. Há também preconceitos envolvendo trabalhadores mais velhos e mulheres. As empresas também têm culpa nesse cenário: seus recrutadores têm demandas irrealistas e muitas vezes bizarras, como exigir cinco anos de experiência para um emprego em nível júnior ou forçar os candidatos a passar por meia dúzia de entrevistas e dinâmicas complicadas quando duas seriam suficientes.

Além disso, muitas empresas simplesmente não oferecem salários altos o suficiente para empregos em TI. Aqui, entra mais um fator que agrava o problema: jovens estão indo trabalhar no exterior ou continuam vivendo no Brasil, mas trabalhando para empresas localizadas no exterior. Mas, contratar os profissionais certos e um número suficiente deles é apenas o primeiro passo. Os gestores precisam trabalhar para garantir que haja um sentimento de pertencimento e um ambiente saudável de trabalho.

O fim do home office pode vir a ser mais um problema a ser enfrentado pelas organizações. Também é preciso pensar a longo prazo sobre as necessidades de pessoal, ao invés de simplesmente focar no próximo projeto – o treinamento e o desenvolvimento devem ser uma prioridade tão alta quanto a seleção e o recrutamento. Importante lembrar que todas as previsões dão conta que o déficit de profissionais deve aumentar muito.

Os executivos de TI também precisam deixar claro para a alta administração que a equipe de tecnologia é uma parte vital de todo o negócio e que a TI não deve ser tratada apenas como um complemento ou um centro de custos, mas como algo capaz de viabilizar novos negócios e liderar a empresa no processo de transformação digital.

A crise de habilidades tecnológicas não tem apenas uma causa e, da mesma forma, não existe apenas uma solução, mas, simplesmente reclamar que não se consegue encontrar as pessoas certas não é uma delas.

(*) – Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.