Henrique Macedo (*)
Com o desenvolvimento do ecossistema de inovação no Brasil e a consequente proliferação das startups, hoje já não existe mais a ingenuidade de achar que basta uma grande ideia para tudo acontecer do dia para a noite. Os empreendedores já sabem que a fórmula do sucesso é composta por 10% de inspiração e 90% de transpiração.
Mas ainda assim, um dos aspectos mais importantes para a construção de uma estrutura sólida de uma empresa muitas vezes ainda é negligenciado. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), em 2012, havia 2.519 empresas iniciantes em funcionamento no país e este número saltou para 12.700 em 2019.
Apesar disso, recentes estudos divulgados pela aceleradora Startup Farm, mostram que infelizmente 74% delas fecham após cinco anos de existência e em 18% desses casos isso acontece antes mesmo de completarem dois anos de operação. Seguramente, um dos grandes causadores deste alto índice de mortalidade precoce de startups reside na imprudência com a qual é conduzida a estruturação contábil dessas empresas.
Talvez por não ter um apelo tão glamuroso quanto o desenvolvimento de produtos e serviços ou a aplicação de novas tecnologias, o assunto é tratado com menos rigor e então acontecem erros fatais dos quais os principais são:
• Falta de avaliação dos aspectos tributários no Business Plan – Um olhar mais cuidadoso com a rentabilidade do negócio nos estágios iniciais do planejamento faz toda a diferença. Muitas vezes o entusiasmo por uma ideia inovadora impede que sejam investigadas questões fundamentais como a possibilidade de bitributação na prestação de serviço ou a geolocalização que impede o empreendedor de aproveitar vantagens oferecidas por municípios que praticam taxas inferiores de impostos em relação aos grandes centros.
A maior parte dos empreendedores confunde aporte com aquisição e quando isso acontece eles gastam o dinheiro como se tivessem vendido a empresa, quando na verdade este recurso deveria ficar na empresa para subsidiar seu crescimento.
Quanto antes esses fatores forem avaliados melhores serão as chances de evitar redução nas margens de lucro e garantir a sustentabilidade financeira da startup.
• Mistura entre os recursos da empresa e dos sócios – Outra grande causadora de problemas que levam ao encerramento de projetos promissores é a confusão que normalmente é feita na hora de utilizar os recursos financeiros. Por falta de clareza neste assunto, muitas vezes os sócios usam o dinheiro da companhia em suas necessidades pessoais e vice-versa. Este tipo de atitude costuma ser ainda mais agravado quando a startup recebe algum tipo de investimento externo.
A maior parte dos empreendedores confunde aporte com aquisição e quando isso acontece eles gastam o dinheiro como se tivessem vendido a empresa, quando na verdade este recurso deveria ficar na empresa para subsidiar seu crescimento. Para evitar esta situação, a separação da estrutura financeira deve ser estabelecida já na estruturação contábil da empresa.
• Mútuo conversível em participação societária – Nada mais é do que um empréstimo do investidor com o objetivo de fomentar a Startup e, futuramente, tornar-se sócio da empresa. Muitos aspectos precisam ser cuidadosamente estudados antes da assinatura do contrato e aceite do aporte, uma vez que poderá ocorrer uma diluição da participação societária do empreendedor.
Existem ferramentas e formas da conversão do mútuo em participação societária que podem resguardar o empreendedor da diluição de seu percentual na sociedade, para tanto tenha uma adequada assessoria jurídica “antes” de aceitar o aporte de investidores.
• Despreparo para auditorias dos investidores – Nenhuma startup consegue alcançar o nível sonhado por seus idealizadores se não receber investimentos externos para suportar seu crescimento. Apesar disso, poucos empreendedores se preocupam verdadeiramente em deixar a estrutura contábil da empresa preparada para receber estes aportes.
A cada dia que passa os investidores de todos os tipos são mais exigentes quanto às informações reais sobre a situação e o potencial das startups nas quais estão interessados em aplicar seus recursos.
Por isso eles realizam as mais exigentes auditorias e ao menor sinal de que alguma coisa está errada ou alguma informação está faltando é criada uma barreira, muitas vezes intransponível entre o recurso e as empresas iniciantes.
Desta forma, quanto maior for a qualidade da estruturação contábil da startup, maiores serão suas chances de captar investimentos e crescer.
(*) – É sócio da GAAP Auditores & Consultores, empresa especializada em terceirização de serviços contábeis, fiscais, departamento pessoal e societário e Accounting Partner do Founder Institute em São Paulo