Edison Kalaf (*)
Chamamos de inovação disruptiva quando é criado um produto ou concebida uma solução que quebra um paradigma já estabelecido no mercado, gerando novos hábitos de consumo ou mesmo novos modelos de negócio.
O conceito foi criado em 1995, por Clayton Christensen, professor de administração na Harvard Business School, reconhecido por seus estudos na área de inovação em grandes empresas. Em 1997, ele publicou o livro “O Dilema da Inovação”, no qual amadureceu a ideia, ao observar que muitas empresas focavam apenas em continuar com os mesmos planos concebidos décadas atrás, sem perceber a chegada de empresas menores, mais rápidas e inovadoras.
Ainda estamos absorvendo os impactos da pandemia, assim como os efeitos da necessidade de investimentos em tecnologia, transformação digital e inovação, mas, de acordo com o estudo “Covid-19 e o futuro dos negócios”, feito pelo IBM Institute for Business Value, esses investimentos devem continuar a ser prioridade para a maioria dos entrevistados. Entretanto, as necessidades de aceleração digital identificadas durante a pandemia por grande parte das empresas não estão, necessariamente, alinhadas à real alocação de recursos para inovação.
Uma pesquisa realizada pela McKinsey mostrou que, apesar da importância que a maioria dos executivos diz dar para a inovação, menos de 25% deles afirmaram estar envolvidos em criar metas de inovação e disponibilização de orçamentos para tal, o que aponta para a necessidade de mudança de mindset da liderança em relação ao tema.
Por conta da pandemia, habilidades e competências, como gerenciamento de crise, gestão de fluxo e caixa, agilidade, resiliência, inovação e propósito, se tornaram mais críticas para o negócio. Um estudo da Snow Software mostrou que a grande maioria (93%) dos tomadores de decisão de TI perceberam que o ritmo da transformação digital aumentou drasticamente na organização em 2021. De acordo com a pesquisa, esses líderes de TI precisam de novos processos para gerenciar os times.
Olhando para habilidades em desenvolvimento, 48% dos líderes de TI afirmaram que precisaram aprender coisas novas ou novas tecnologias; 42% focaram no aprendizado de novas habilidades de liderança e gerenciamento; e 29% tiveram que lidar sozinhos com as mudanças.
Isso fez com que alguns métodos, como, por exemplo, o funil de inovação, já não façam mais sentido atualmente. Isso porque, não é possível acompanhar as mudanças do mundo, que acontecem cada vez mais rapidamente. No tempo em que você analisou 500 ideias, filtrou as 100 mais interessantes, projetou 50 delas, testou 20 e executou 5, os seus concorrentes já escalaram para novos modelos de negócios e já estão oferecendo novas soluções.
Além disso, é importante ressaltar que esses processos também podem ser aplicados para tornar a inovação disruptiva um objetivo da organização, aumentando o potencial de valor dos investimentos.
. Como inovar nas empresas? – Neste contexto, iniciativas que tornam a inovação disruptiva possível nas organizações são de extrema importância. Pensando nisso, a consultoria McKinsey formulou uma lista com 8 perguntas essenciais no contexto da inovação. São elas:
1) Inspirar: você considera crítico o crescimento apoiado pela inovação e tem metas que refletem isso?
2) Escolher: você investe em um portfólio de inovação que equilibra tempo e risco com recursos suficientes para vencer?
3) Descobrir: você possui insights de negócio, mercado e tecnologia que se traduzem em propostas de entrega de valor?
4) Evoluir: você tem criado novos modelos de negócio que te dão escalabilidade e recursos de defesa?
5) Acelerar: você vem superando a concorrência desenvolvendo e lançando inovações de forma ágil e efetiva?
6) Escalar: você lança inovações na escala correta e em mercados e segmentos relevantes?
7) Ampliar: você ganha criando e capitalizando em redes externas?
8) Mobilizar: o seu time está motivado, recompensado e organizado para inovar com constância?
Alguns anos depois, a consultoria revisitou essa lista de perguntas e comprovou que esses itens são, de fato, essenciais e críticos para as organizações se tornarem mais competitivas e até mesmo disruptivas.
De acordo com a pesquisa, as descobertas são consistentes com a experiência de que os melhores inovadores se beneficiam de atividades e práticas interdependentes. Assim, a habilidade de desenvolver, entregar e escalar novos produtos, serviços, processos e modelos de negócio com agilidade é algo que todas as empresas podem utilizar para se fortalecer.
Entretanto, como você já deve ter experienciado no seu dia a dia, apenas a vontade de inovar não é o suficiente. Alguns podem atribuir essa falha à falta de criatividade ou falta de geração de ideias. Entretanto, de acordo com a McKinsey, o coração do problema está na alocação de recursos.
Muitos falam sobre a importância da inovação como potencializadora do crescimento, porém falham na hora de direcionar recursos (pessoais, investimentos, gerenciamento, atenção) para apoiar as melhores ideias. As empresas normalmente acabam fazendo melhorias em produtos e serviços já existentes, com o intuito de reduzir os riscos dos investimentos. No entanto, em geral tal atitude tem baixo potencial disruptivo ou de criação de novos modelos de negócio e, portanto, baixo potencial de diferenciação.
É necessário ter claro e mostrar para todos os colaboradores como a companhia pode se transformar a partir da inovação. Essa apresentação de futuro, que descreve claramente como será o sucesso, aliada à estratégia e ações-chave que incluem métricas quantitativas e qualitativas para medir o progresso, são capazes de inspirar, para além das palavras, garantindo o comprometimento de todos. E um dos segredos é escolher métricas que estão diretamente relacionadas à geração de valor para o negócio.
Além de inspirar e trazer a inovação para o dia a dia de todos, institucionalizando e fazendo da inovação um requisito funcional, priorizar e escolher as oportunidades que serão desenvolvidas também é uma tarefa crucial, exatamente por conta da natural restrição de recursos.
Com a estratégia (diferenciação) e a tática (inovação) claros, certamente será possível destinar os recursos necessários para o sucesso nesta jornada.
(*) – É sócio-diretor da OPUS Software, empresa especializada em soluções digitais, incluindo o desenvolvimento de software personalizado, que atua há mais de 30 anos no mercado.