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Contador pulando para o quintal do cliente

em Manchete Principal
quarta-feira, 27 de maio de 2020

“O empresário brasileiro em geral tem muito conhecimento técnico, mas na área de gestão, assessoria, apoio, é um pouco deficiente. Então nós entendemos que senão pularmos para o quintal do cliente, trabalhar lado a lado com ele, o nosso trabalho de contadores não sai de acordo”. Com esta imagem, o contador Edmilson Ataíde, fundador da empresa Hemera, parte do Grupo Atai, explicita a vocação dos serviços que presta aos seus clientes.

Luiz Henrique Romagnoli/JEN

Nesta entrevista ao JORNAL EMPRESAS E NEGÓCIOS, Ataíde fala mais sobre sua atividade e das formas de recuperação de créditos, que apontou em reportagem anterior*. Ele mostrou que empresas de vários portes podem recuperar créditos tributários de maneira relativamente rápida e gerar caixa para enfrentar a crise da pandemia da COVID-19.

Ele aponta que existem valores pagos a mais em impostos como o ICMS, Simples nacional, verbas indenizatórias previdenciárias, entre outros. E que esta recuperação pode acontecer de forma administrativa e mesmo através de processos judiciais que têm sido decididos de forma rápida para padrões brasileiros. Recursos como contestação da inclusão do ICMS no cálculo de PIS e COFINS para empresas que recolhem sobre lucro real e lucro presumido: “ Em média não tem passado de 30, 35 dias para julgamento do mérito. E aí já é possível fazer uso do crédito para compensar em impostos federais”.

Imagem: Freepik

Para Edmilson Ataíde, a existência de impostos pagos a mais se deve a tanto a “complicação que o governo vem criando” no sistema tributário como à tendência conservadora entre os contadores, que preferem “não expor a empresa a risco e em caso de dúvida, tributa e vai discutir posteriormente”.

Já a possibilidade de recuperar estes impostos se dá porque muitas medidas que complicam demasiadamente o sistema tributário acabam se tornando “tiros no pé, porque grandes empresas que podem pagar um suporte jurídico vão discutir tudo e têm chance de ganhar muita coisa”, analisa Edmilson Ataíde. E exemplifica:

Se um empresário estivesse montando sua planilha de perguntasse há, digamos, 15 anos sobre as alíquotas do PIS e Cofins, eu cravava fácil, 3,65% e acabou. Três por cento de Cofins, 0,65% de PIS. SE o mesmo empresário me chamar hoje, vamos falar por uma hora e ao final ele ainda pode se sentir enrolado, sem saber o que fazer.

Arte: JEN

Ataíde não é otimista sobre a reforma tributária anunciada pelo governo e hoje discutida em projetos da Câmara e do Senado. Considera que a sonhada simplificação pregada pelo executivo e legislativo não será completamente atingida. “Fala-se de um imposto de valor agregado, ou outro nome que tem no Senado, querendo simplificar demais um sistema muito complexo, por exemplo, ao cravar uma alíquota única. O setor de serviços vai ter um sério impacto se isso passar do jeito que está. Então acho que talvez não seja com uma única reforma que a gente resolva isso. Teria de fazer em alguns lances para poder evoluir de forma satisfatória, sem penalizar muito este ou aquele setor”, comenta.

Para Edmilson Ataíde é função do contador “sair do trivial e fazer a diferença e impactar de forma positiva o negócio do seu cliente”. Lembrando sua atuação em entidades corporativas, ele diz que “o contador não pode se acostumar a esta reserva de mercado, porque hoje não é possível abrir e tocar uma empresa sem contador”.

Muitos esqueceram que a função do contador é subsidiar a gestão do negócio do cliente. Imagine a complexidade de informação que o contador tem dentro da empresa, nós processamos tudo, nós sabemos de toda a vida da empresa. Temos condição de interferir em situações capitais para o sucesso ou fracasso do negócio. Mas se o contador não olha esses números, aí o consultor vale. A valorização do contador tem de ser conquistada no dia a dia, não é uma mercadoria de prateleira ou algo que uma ação do SESCON (sigla dos sindicatos da área de contabilidade), ou do CRC (Conselho Regional de Contabilidade), conclui.

O Grupo

O Grupo Atai surgiu da fusão de empresas de contabilidade e outros serviços empresariais, resultando num conglomerado com cinco unidades, três em São Paulo, capital, uma no ABC e outra em Belo Horizonte.
Atua com assessoria contábil, abertura de empresas, folha de pagamento, terceirização financeira, revisão tributária e consultoria tributária.
A soma das especialidades permite que o grupo atue junto a startups, prestadores de serviços, área de tecnologia, indústrias e comércio varejista e atacadista. Atualmente conta com 300 colaboradores e presta serviços a quase 2 mil empresas de variados portes e áreas de atuação.