Vivaldo J. Breternitz (*)
Em janeiro de 2019, o sistema de navegação por satélite BeiDou (BDS), da China, rival do amplamente usado GPS americano, começou a operar em escala global, não mais apenas regional, como vinha acontecendo até então. Como estava previsto, ainda neste mês será lançado o último satélite que comporá o sistema, aumentando sua precisão e dando à China e a eventuais outros usuários total independência em relação ao GPS.
BeiDou é o nome dado em chinês ao conjunto das sete estrelas mais brilhantes da constelação Ursa Maior. A ideia de desenvolvê-lo tomou forma nos anos 1990, em função do interesse dos militares chineses em deixar de depender do GPS. Os primeiros satélites que o compõem foram lançados no ano de 2000, ano em que o sistema começou a funcionar de forma parcial, cobrindo apenas partes da China.
Em 2013, o sistema passou a cobrir toda a região Ásia-Pacífico; em 2015, foi iniciada a terceira fase, visando cobrir todo o globo; essa fase se conclui agora com o lançamento de seu 35º satélite – o BDS já tem mais satélites que o GPS, que tem 31. Seus projetistas puderam aproveitar a experiência advinda do uso do GPS, construindo um sistema de operação e manutenção mais simples.
O BDS tornará a rede de comunicações militares mais segura e os sistemas de armas mais precisos, evitando os riscos advindos do uso de recursos controlados por um eventual inimigo. Alguns de seus serviços, como os voltados ao controle de tráfego marítimo e à mitigação de efeitos de desastres já estão sendo utilizados por cerca de 120 países, como diz a imprensa chinesa. Os primeiros usuários foram o Paquistão e a Tailândia.
Muitos desses países fazem parte do que vem sendo chamado Nova Rota da Seda, iniciativa chinesa envolvendo vultosos investimentos, sobretudo nas áreas de transporte e infraestrutura, visando aumentar a influência do país, especialmente na Ásia e África. Apenas na China, mais de 70% dos celulares e milhões de taxis, ônibus, caminhões e embarcações já podem usar o BDS. Esses volumes devem impactar, do ponto de vista comercial, não apenas o GPS, mas também iniciativas similares como o GLONASS russo, o Galileo da União Europeia e o NavIC da Índia.
(*) – Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.