O perfil dos corredores de rua amadores
O perfil dos corredores de rua amadores
Pesquisador investigou tipo de treinamento, condições de saúde, ocorrência de lesões e consumo de suplementos.
![]() Corredora de rua em Campinas: cada vez mais popular, atividade esportiva teve crescimento expressivo. |
Carmo Gallo Netto/Jornal da Unicamp
Desde a iniciação científica, realizada durante a graduação na Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, José Vitor Vieira Salgado tem olhado com interesse as caraterísticas dos corredores de rua amadores. A progressiva constatação de que as corridas de rua tornavam-se uma das ocorrências esportivas mais populares no Brasil e no mundo, com expressivo crescimento nos últimos anos, o levaram no doutorado, orientado pelo professor Orival Andries Junior, ao levantamento e à análise do perfil de corredores de rua.
Segundo a Federação Paulista de Atletismo, o Estado de São Paulo abrigou 415 provas oficiais em 2015, disputadas por 724 mil corredores. O objetivo do trabalho foi estabelecer o perfil dos corredores de rua amadores com base em parâmetros como forma e intensidade de treinamentos, condições de saúde, ocorrência de lesões e prevalência do consumo de suplementos alimentares.
A publicação se apoia em três estudos. O primeiro, de caráter nacional, centrou-se em entrevistas com participantes, voluntários e abordados aleatoriamente, de quatro provas, todas realizadas em 2004: Corrida Integração, Campinas; Maratona de Revezamento Pão de Açúcar, São Paulo; Volta Internacional da Pampulha, Belo Horizonte; e Corrida de São Silvestres, São Paulo. Os resultados foram publicados no Jornal of the International Society of Sports Nutrition.
As entrevistas envolveram perguntas relacionadas ao tempo de prática e frequência semanais dos treinamentos, utilização de orientação profissional, realização de exames clínicos, avaliação física e consumo de suplementos alimentares e objetivavam determinar a prevalência do seu consumo por esses corredores. Cerca de 30% dos entrevistados relataram o consumo de algum tipo de suplemento alimentar, principalmente com o objetivo de aumentar a resistência e melhorar o desempenho.

Os dois estudos seguintes decorreram do acompanhamento longitudinal, por quatro anos consecutivos (2010 a 2013), de participantes da Volta da Unicamp. Basearam-se na aplicação de questionário eletrônico de autopreenchimento, constituído de perguntas referentes à prática de corrida de rua e refinadas a partir das experiências adquiridas na pesquisa anterior.
O primeiro deles concentrou-se na verificação da prevalência do consumo de suplementos alimentares entre os participantes do evento. Cerca de 21% dos avaliados consomem suplementos alimentares constituídos principalmente de carboidratos, proteínas, vitaminas e aminoácidos. Esse consumo se revelou proporcional à porcentagem percorrida por semana, tempo de prática de corrida e acusou um aumento de aproximadamente 9% no período estudado. Os dados levaram o pesquisador a presumir que praticantes que treinam maiores distâncias por mais tempo estão mais propensos a consumir suplementos alimentares.
No mesmo período, o autor desenvolveu outro estudo com o objetivo de verificar a prevalência de lesões dos participantes da mesma prova. Cerca de 31% dos entrevistados relataram algum tipo de lesão. Aproximadamente 50% dos lesionados declararam receber alguma orientação nos treinamentos por parte de técnicos ou educadores físicos. As lesões são mais recorrentes entre os que se submetem a maiores cargas de treinamento e mais participações em provas.

O pesquisador ressalta a gama dos benefícios físicos e psicossociais que, a exemplo de outros esportes, a prática regular de corrida proporciona a seus praticantes. Mas observa também que a crescente busca pelo desempenho atlético pode acarretar esforços que conduzem a lesões, agravadas pela recuperação acelerada e pela utilização desmedida de suplementos alimentares. Dentre os principais fatores associados à incidência de lesões e ao consumo de suplementos alimentares, ele destaca o tempo de prática da modalidade, o volume de treinamento, número de horas do dia dedicadas ao treino, participação em competições.