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FAO sugere que jovens de países em desenvolvimento não deixem áreas rurais

em Especial
segunda-feira, 09 de outubro de 2017
Edgard Júnior/ONU News

FAO sugere que jovens de países em desenvolvimento não deixem áreas rurais

Relatório divulgado ontem (9) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sugere que os jovens que vivem nas áreas rurais de países em desenvolvimento não deixem esses locais em busca de empregos nas grandes cidades e aproveitem “o papel fundamental” que essas áreas terão para o crescimento econômico desses países

Edgard Júnior/ONU News

Agência da ONU mostra “revolução silenciosa” para melhorar cadeia de valores e papéis vibrantes para pequenas cidades.

Pedro Peduzzi/Agência Brasil

De acordo com a nova edição do relatório anual ‘O Estado da Alimentação e da Agricultura no Mundo’, “os habitantes das áreas rurais que se deslocam para as cidades provavelmente correrão um maior risco de juntarem-se à população urbana pobre, em vez de encontrar um caminho para sair da pobreza”.

A urbanização – em especial das cidades com menos de 500 mil habitantes – representa, segundo a FAO, uma “oportunidade de ouro” para a agricultura desenvolvida nas áreas rurais, em especial para os agricultores familiares. Para que isso aconteça, entretanto, é necessário dar a eles condições para que possam dar conta da demanda que surge a partir desses mercados.

“As políticas e os investimentos públicos de apoio serão essenciais para aproveitar a demanda urbana como motor de um crescimento transformador e equitativo, e as medidas elaboradas para garantir a participação dos pequenos agricultores familiares no mercado devem estar integradas às políticas”, diz o relatório. A FAO acrescenta que o investimento nas áreas rurais também ajudará os países a cumprirem a Agenda 2030 para o desenvolvimento, uma vez que a maioria das pessoas pobres ou que passam fome vivem nessas áreas.

Entre os desafios previstos para aproveitar o potencial das áreas rurais, a FAO sugere três linhas de ação. A primeira está relacionada à execução de políticas que garantam que os pequenos produtores possam satisfazer a demanda alimentar urbana – é o caso de medidas como o fortalecimento dos direitos à posse de terra e o acesso a crédito.

Em segundo lugar, o estudo aponta a criação de infraestrutura adequada para fazer a ligação das áreas rurais com os mercados urbanos. De acordo com o levantamento da FAO, “em muitos países em desenvolvimento a falta de estradas rurais, redes elétricas, galpões de armazenagem e sistemas de transporte refrigerado são um grande obstáculo para os agricultores que desejam aproveitar a demanda urbana de frutas frescas, hortaliças, carne e produtos derivados do leite”. A terceira ação consiste na inclusão de zonas urbanas menores e dispersas nessas conexões – não apenas megacidades.

Ainda de acordo com a FAO, o apoio a políticas e o investimento nas áreas rurais “para construir sistemas alimentares potentes” pode ajudar também as agroindústrias que estão bem conectadas com as áreas urbanas, de forma a criar emprego e permitir que um maior número de pessoas permaneça e prospere no meio rural. Novas oportunidades econômicas poderão surgir também das atividades não agrícolas relacionadas à agricultura.

O relatório elogia programas brasileiros como os que compram a produção de agricultores familiares para compor a merenda escolar oferecida pelas escolas públicas.É o caso de empresas que processam, refinam, embalam, transportam, armazenam, comercializam ou vendem alimentos; o de empresas prestadoras de serviços como os de irrigação ou plantio; e também das empresas fornecedoras de insumos produtivos, como sementes, ferramentas e equipamentos, e fertilizantes.

O relatório conclui que os centros urbanos menores representam um mercado de alimentos “muito negligenciado”, quando, na verdade, “metade da população urbana de países em desenvolvimento vive em cidades e povoados com menos de 500 mil habitantes”.

Programas brasileiros
O relatório elogia programas brasileiros como os que compram a produção de agricultores familiares para compor a merenda escolar oferecida pelas escolas públicas. Sem citar nominalmente o programa de Seguro Rural, elogia também “ferramentas de gerenciamento de riscos” que resultam na proteção de ativos de produtores mais pobres.

“Outras inovações agora amplamente aplicada incluem a ligação de esquemas públicos de compras de alimentos à alimentação escolar. É o caso de programas de apoio a pequenos agricultores familiares fornecedores que têm como pioneiro o Brasil. Proteção social e ferramentas de gerenciamento de riscos para regiões rurais pobres, bem como para famílias agrícolas, promovem inclusão e transformações rurais por meio da proteção de ativos”, diz o relatório.

Em outro momento, o relatório diz que “nos países onde existe um grande setor comercial, como o Brasil, as fazendas menores são mais produtivas que as fazendas maiores, mas não mais produtivas que as fazendas comerciais de grande escala”.

Entre os desafios está a execução de políticas que garantam que os pequenos produtores possam satisfazer a demanda alimentar urbana.O relatório da FAO apresentou alguns números que retratam a evolução e a situação atual da alimentação e da agricultura no planeta. O documento afirma que a demanda dos mercados urbanos é crescente e, atualmente, representa até 70% dos abastecimentos nacionais de alimentos.

Segundo a publicação, a população rural do mundo em desenvolvimento aumentou em 1,5 bilhão de pessoas entre 1960 (1,6 bilhão de pessoas) e 2015 (3,1 bilhões de pessoas). Atualmente as grandes cidades (de 5 a 10 milhões de habitantes) e as megacidades (com mais de 10 milhões de habitantes) representam 20% da população urbana do planeta.

Metade da população mundial vive, atualmente, em cidades com menos de 500 mil habitantes ou em áreas rurais que as cercam, e que, em nível mundial, as zonas urbanas menores representam cerca de 60% da demanda urbana por alimentos.

O relatório projeta que, em 2030, a maioria da população urbana mundial estará concentrada nas cidades com uma população que não superará 1 milhão de habitantes, e que 80% dessas pessoas viverão em áreas urbanas com menos de 500 mil habitantes.