Desmatamento vai aquecer clima do planeta mais que o estimado
Floresta produz emissões que resfriam clima, e desmatamento pode levar a maior aquecimento que o previsto considerando só emissão de carbono
Artigo na Nature Communications alerta que o desmatamento provocará um aquecimento mais intenso do que o previsto. |
AC-IF/Jornal da USP
O desmatamento de florestas vai provocar um aquecimento do clima global muito mais intenso do que o estimado originalmente, devido às alterações nas emissões de compostos orgânicos voláteis e às coemissões de dióxido de carbono com gases reativos e gases de efeito estufa de meia-vida curta.
Um time internacional de pesquisadores, com a participação de cientistas do Instituto de Física (IF) da USP e da Unifesp, campus Diadema, calculou a força radiativa do desmatamento, levando em conta não somente o CO2 emitido, mas também o metano, o black carbon (carbono na forma de material particulado), a alteração no albedo (a fração da radiação refletida de volta ao espaço) de superfície e todos os efeitos radiativos conhecidos. O resultado final aponta que a temperatura vai subir mais do que o previsto anteriormente.
A pesquisa foi publicada recentemente na revista Nature Communications e utilizou detalhados modelos climáticos globais acoplados à química de gases e partículas em alta resolução. Descobriu-se que as emissões de florestas que resfriam o clima (compostos orgânicos voláteis biogênicos, os BVOCs) ficarão menores, implicando que o desflorestamento pode levar a temperaturas mais altas do que o considerado em estudos anteriores.
O físico Paulo Artaxo, do IF, um dos autores do estudo, explica que os BVOCs são gases emitidos naturalmente pelas plantas como parte de seu metabolismo. “Eles se transformam, em parte, em partículas. Na Amazônia, a maior parte das partículas em suspensão na atmosfera são provenientes da oxidação destes BVOCs. As partículas que são associadas com os BVOCs resfriam o clima do planeta, sendo mais um serviço ambiental que as florestas realizam”, descreve o físico. Ele também afirma que a maior parte dos estudos dos impactos climáticos do desmatamento publicados anteriormente focou somente as emissões de CO2.
“Neste novo estudo, levamos em conta a redução das emissões de BVOCs, a emissão de black carbon, metano e os demais gases de efeito estufa de vida curta”, explica. Os BVOCs participam de complexas reações químicas e podem produzir ozônio e metano, ambos gases de efeito estufa de meia-vida curta, isto é, com eliminação em menor tempo.
“O estudo considerou todos esses fatores conjuntamente, além das mudanças no albedo de superfície, quando derrubamos uma floresta e a trocamos para pastagem ou plantações”, acrescenta. Os gases de efeito estufa de meia-vida curta (do inglês Short Lived Climate Pollutants – SLCP) consistem em metano (CH4) e precursores de ozônio que aquecem a atmosfera e têm meia-vida muito mais curta do que a do CO2. Estes gases são emitidos conjuntamente com o CO2 no processo de desmatamento e queimadas, como ocorre na Amazônia. Seu efeito no clima é forte, pois são mais potentes que o CO2 para fazerem efeito estufa.
Levando em conta todos esses fatores, observou-se que as emissões das florestas que esfriam o clima têm um papel enorme na regulação da temperatura do planeta. “Derrubando as florestas, acabamos com este efeito esfriador, e aumentamos o aquecimento global.” Artaxo coloca que o efeito global é de um aquecimento adicional de 0.8 °C, em um cenário de desmatamento total. “Isso é um valor alto, comparável ao atual aquecimento médio global (cerca de 1.2 °C) ocorrido com todas as emissões antropogênicas desde 1850”, diz o físico.
Luciana Rizzo, professora da Unifesp, outra coautora do estudo, salienta que, nos trópicos, o efeito atual das emissões de VOCs resfriando o clima é mais forte do que em florestas temperadas. “Portanto, o desmatamento nos trópicos tem um efeito mais importante no clima global”, conclui.
Empresas usam eletricidade gerada por fontes renováveis e bactérias
A Evonik e a Siemens planejam usar eletricidade gerada por fontes renováveis e bactérias para converter dióxido de carbono (CO2) em produtos químicos especiais. As duas empresas estão trabalhando em processos de eletrólise e fermentação, em um projeto de pesquisa em conjunto chamado Rheticus. O projeto foi lançado no último mês e deve ter duração de dois anos. A primeira usina de teste está programada para entrar em operação até 2021 na instalação da Evonik, em Marl, na Alemanha, que produz produtos químicos como butanol e hexanol, que são usados na produção de plásticos especiais e suplementos alimentares, por exemplo. A próxima etapa pode ser uma usina com capacidade para produzir até 20 mil toneladas por ano. Existe também a possibilidade de fabricar outros produtos químicos especiais ou combustíveis. Cerca de 20 cientistas das duas empresas estão envolvidos no projeto.
“Estamos desenvolvendo uma plataforma que nos permitirá produzir produtos químicos de forma muito mais econômica e verde do que hoje”, explica o Dr. Günter Schmid, responsável pelo projeto técnico da Siemens Corporate Technology. “Com a nossa plataforma, as empresas de energia poderão, no futuro, expandir suas usinas de acordo com suas necessidades”. A nova tecnologia combina vários benefícios. Além de permitir a produção sustentável de produtos químicos, ela também serve como um armazenamento de energia, podendo atender às oscilações de energia e ajudar a estabilizar a rede de distribuição. O projeto Rheticus está vinculado à Iniciativa Kopernikus de transição energética na Alemanha, que busca novas soluções para reestruturar o sistema energético. O projeto Rheticus receberá 2,8 milhões de euros de financiamento do Ministério da Educação e Pesquisa (BMBF) da Alemanha.
“Com a plataforma Rheticus, queremos mostrar que a fotossíntese artificial é viável”, acrescenta o Dr. Thomas Haas, responsável pelo projeto no departamento de pesquisa estratégica da Evonik Creavis. A fotossíntese artificial é onde o CO2 e a água são convertidos em produtos químicos usando uma combinação de etapas químicas e biológicas, em um processo semelhante àquele aplicado pelas folhas, que usam clorofila e enzimas para sintetizar a glicose.
A Siemens e a Evonik estão dedicando suas competências principais para essa colaboração de pesquisa. A Siemens fornece a tecnologia de eletrólise, que é usada no primeiro momento para converter dióxido de carbono e água em hidrogênio e monóxido de carbono (CO) usando eletricidade. A Evonik contribui com o processo de fermentação, convertendo gases que contêm CO em produtos úteis por meio de processos metabólicos com a ajuda de micro-organismos especiais. No projeto Rheticus, estas duas fases – eletrólise e fermentação – são ampliadas no laboratório e combinadas em instalações de testes técnicos (Envolverde)