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O papel das lideranças na agenda de inovação

em Espaço empresarial
terça-feira, 09 de janeiro de 2024

Guilherme Massa (*)

Líderes não sabem inovar. Precisam, mas não sabem – prova disso são as pesquisas que fizemos na Liga Ventures com alta liderança sobre temas de Inteligência Artificial, Transformação Digital, ESG e DE&I. Ao perguntarmos “o que falta na empresa?”, as respostas-padrão foram “conhecimento”, “cultura” e “time preparado”.

É compreensível. Muitos destes temas são pautas recentes e nem mesmo os MBAs estão bem estruturados ainda. Mas isso não pode virar desculpa pronta para a liderança, dada a urgência do assunto. Copilotos e prompts de IA não vão resolver os impasses estratégicos das organizações – pelo menos, por enquanto. É preciso saber inovar.

Ter onisciência corporativa é inviável, mas é possível mergulhar mais. Como? Usando a ambidestria corporativa, um conceito que prevê que lideranças equilibrem as suas agendas, prioridades e competências entre garantir a eficiência do negócio atual e, ao mesmo tempo, dar atenção a criar o negócio do futuro, isto é, perenizando a companhia – uma agenda superrelevante para conselheiros e governança.

Se um dos desafios é alocação de agenda, existem atalhos: é importante focar no que os clientes estão dizendo, concentrar-se em escutá-los e em como a operação da empresa precisa se moldar para atendê-los à excelência hoje e no futuro. Para o agora, organizar o time para entregar valor e não só rodar processos que muitas vezes irritam os consumidores.

Para o depois, o negócio “to-be”, dedicar-se nas tendências e estudar como vários mercados estão atendendo pessoas com o mesmo perfil e também quais novos clientes é preciso conquistar. João Branco, ex-VP de Marketing do McDonald’s, conta em suas palestras como o Méqui chegou a perder a preferência dos adolescentes e como isso custou centenas de milhões em investimento de marca para recuperar o público “do futuro” da companhia. Se o maior fast-food do mundo perdeu a mão em algum momento, todas as empresas precisam estar atentas sobre como será o mercado daqui alguns meses e anos, com esse ritmo de transformação sendo cada vez mais veloz.

Quer um exemplo? A Novo Nordisk, maior fabricante global de insulina, mudou o PIB da Dinamarca ao lançar o Ozempic e o Wegovy. O impacto desses medicamentos para controle de sobrepeso é tanto que as redes de alimentação já preveem uma redução mundial de demanda. Noutras palavras, uma inovação em Saúde pode reduzir a fome por impulso e, por tabela, encolher o mercado de Alimentação fora de casa. Logo, se você está só preocupado em melhorar os processos atuais, prepare-se para ver sua companhia morrer eficiente.

Isso porque os líderes não sabem inovar. Mas é possível aprender, e pode ser um processo prazeroso! Converso com dezenas de altos executivas e executivos por ano, e todo mundo conta como é libertador sair da rota do rato de apenas olhar o negócio no curto prazo.

Evidentemente, é um esforço inicial de entender que o papel da liderança é sim de enxergar inovação como prioridade, pois ninguém mais olhará com tanta capacidade de transformar a empresa. Em segundo lugar é uma forma de se reinterpretar como profissional, mostrando que pode assumir desafios maiores em conselhos e outras organizações quando se aprende a trazer novidades e inovar, em vez de apenas garantir o resultado do trimestre.

(*) Co-fundador da Liga Ventures, maior rede de inovação da América Latina com o propósito de gerar resultados e impacto, conectando as melhores startups às empresas e a todo ecossistema empreendedor.