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Não precisamos lidar sozinhos com o medo de empreender

em Espaço empresarial
quarta-feira, 09 de setembro de 2020

Fernando Taliberti (*)

Uma das maiores diferenças que uma rede de networking pode fazer para o sucesso de cada empreendedor individualmente é facilitar o apoio um ao outro, psicologicamente. Isso porque vivenciei na pele essa diferença. Ser fundador de uma startup pode soar glamuroso. Para quem está de fora. “Matar um leão por dia” é uma expressão bastante clichê, junto com outras tantas que são usadas para expressar o trabalho do empreendedor e que o faz parecer um herói.

Elas ilustram o imaginário, mas nem de longe comunicam o que sente o profissional ao encarar todos estes desafios. A verdade é que o empreendedor é um ser humano como qualquer outro. Talvez com alguns parafusos a menos que a média, mas, ainda assim, humano. E para esse ser humano, o maior desafio não está em encontrar o market fit, gerenciar o runway, afiar o pitch…

Está no que isso exige do nosso psicológico. Imagine conviver o tempo todo com pensamento sobre o número de dias que a sua empresa tem de caixa para continuar viva. Soa massacrante, não é? E é difícil achar apoio psicológico adequado, ou talvez específico, para um empreendedor. Será? Minha experiência que embasou minha resposta foi que o maior apoio psicológico veio de outros empreendedores.

Empreender é uma jornada muito solitária. Mesmo para quem tem sócios, é fácil se sentir sozinho, incompreendido, desamparado. Às vezes, as pessoas mais próximas de nós são as últimas com quem podemos dividir nossos problemas. E é por isso que ter uma rede de empreendedores fez toda a diferença em um momento especialmente difícil da jornada de empreendedor.

Aconteceu durante a residência no Google Campus for Startups. Eu poderia dizer que o programa foi espetacular por diversos aspectos, mas o principal deles foi a rotina de troca entre os founders. Quinzenalmente, nos reuníamos para trocar experiências e avanços. Mas, em um desses encontros, apoiados pelo Marcelo Cardoso, fundador da Chie, fomos convidados a nos integrar de maneira diferente.

Para começar, compartilhamos nossas histórias de vida. E, ao ouvir a história de cada um de meus colegas, algo surpreendente aconteceu com o sentimento de solidão. Eu não estava sozinho. Tinha um monte de gente quase igual a mim. Com histórias particulares, mas semelhantes. Com as mesmas dores, as quais me identifiquei totalmente.

Nas sessões seguintes, compartilhamos desafios, crenças limitantes e até constelação sistêmica. A cada empreendedor que ouvíamos, ajudávamos a nós mesmos. Os desafios de um repercutiam em todos. Falamos sobre o que era difícil, sem nos preocupar com aparências, sem precisar vender nada para ninguém. Isso é libertador e poderoso.

Foi praticamente uma terapia de grupo, transformadora. Mudou a forma como lido com outros empreendedores. Sempre gostei de me conectar com outros founders, mas, após essa experiência, comecei a abordar outros tópicos nesse networking. A trocar experiências não mais no nível dos desafios de negócios, mas nos desafios emocionais e psicológicos trazidos por eles também.

É como se abrir para a vulnerabilidade ajuda. Ela nos torna mais fortes, abre portas e constrói pontes, que geram frutos. Por isso, quando uma rede de founders me pergunta como pode ajudar, logo me vem à cabeça diversos movimentos de networking, meetups, trocas de experiências, ferramentas e práticas. Todos importantes, mas sob a ótica da superficialidade.

Se você é um founder, procure outros como você. Troque experiências, mas fale sobre o que você sentiu, sobre o que está sentindo, conte a sua história, não a da sua empresa. E ouça, é claro, o mesmo. Não se fala muito sobre isso e essa talvez seja a origem do problema. Entendê-lo e agir sobre ele pode trazer uma transformação profunda para nosso ecossistema.

Se fizer para você, estarei ansioso para saber.

(*) – Mestre em negócios online e TIC pela Politecnico di Torino, é fundador da Onyo, empresa de operações digitais de food service (www.site.onyo.com).