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Insegurança faz pequenas e médias empresas pensarem em operações fora do Brasil

em Espaço empresarial
segunda-feira, 20 de setembro de 2021

O sonho de viver num país mais seguro e com menos instabilidades econômicas e políticas leva muitos brasileiros a montarem operações em outros países, principalmente nos Estados Unidos.

Luiz Henrique Romagnoli/NETJEN

Se o produto ou serviço tem procura entre os patrícios residentes, a tarefa é mais fácil. Mas a cada dia nossos profissionais e empresas encontram nichos no grande mercado norte-americano. Esta é a opinião de Vinicius Bicalho, advogado especializado em apoiar empresa e profissionais nesta mudança, registrada em entrevista para o Jornal Empresas e Negócios.

A visão do profissional brasileiro nos Estados Unidos tem variações extremas, ele conta: “Uma vice presidente de banco me disse que o bom profissional brasileiro é o melhor do mundo, porque ele tem uma capacidade de adaptação, é criativo, tem jogo de cintura, é simpático. Mas o mau profissional brasileiro é o pior do mundo porque ele mente, ele promete que vai entregar não cumpre” Bicalho diz que a chave do bom desempenho é nunca esquecer que os EUA são o país da metodologia. “Eles seguem sempre o método. Se o brasileiro canalizar esta criatividade e jogo de cintura na medida certa, ele vai arrancar alguns pontos na frente”.

Uma grande dificuldade para os empreendedores brasileiros, segundo o CEO da Bicalho Consultoria Legal, esta no seu mindset. “A forma que o brasileiro empreende muitas vezes não é o que o mercado exige. Nos Estados Unidos há poucas oportunidades de correção ao longo do caminho”. Ele exemplifica comparando a facilidade com que é possível por aqui abrir uma MEI, passar para Eireli, a sociedade limitada unipessoal, transformar numa limitada, depois numa S/A. “Aqui nos EUA você não tem essa área de manobra toda. Você começa com um tipo societários e deve morrer com ele, com umas poucas exceções como sair de uma LLC, o equivalente, em termos, a uma limitada e se transformar em uma corporação, que seria uma S/A. Mas o caminho contrário não pode ser feito”.

  • Na área tributária, a legislação do Brasil é complexa e dá margem a interpretações. Além disso há oportunidades que o empresário brasileiro está acostumado, como o REFIS. Nos Estados Unidos, não. A lei é clara e a exigência do cumprimento é rigorosa. Se você não cumpriu ou errou, você vai arcar com as consequências do peso da lei – comentou.

Com curso de mestrado nos Estados Unidos e quase uma década apoiando brasileiros na sua mudança, Vinicius Bicalho avalia que há oportunidades em diversas áreas para brasileiros. “Existem oportunidades nas áreas de decoração, manutenção, moda, que atrai muito o americano, a estética. Há restaurantes brasileiros. A nossa culinária é respeitada pelo americano”. E chamou atenção para um nicho crescente, na área de esportes. “Principalmente esportes de verão como o beach tênis, vôlei de praia, também existe uma receptividade muito grande. São ex-atletas brasileiros que se transformam em treinadores e empreendedores”.

Mesmo em áreas consideradas antes inexpugnáveis, já se abrem espaços. Os dentistas brasileiros têm o trabalho muito reconhecido e na área de cirurgia plástica também. “É comum aqui você ver placas e out-doors de profissionais que dizem usar ‘técnica brasileira’”. Na engenharia e arquitetura é possível conseguir espaço fugindo dos estilos americanos tradicionais e entrando na área de moradias de veraneio, em que a experiência com o nosso belo litoral é desejada. Vinicius Bicalho avalia: “O Brasil é capaz de influenciar os EUA”.

Mas há obstáculos legais comparáveis ao emaranhado de leis brasileiras, quando se trata de legislações estaduais. Vinicius Bicalho exemplifica as diferenças com a prática da Medicina em que, dependendo do estado, pode ser necessária apenas uma prova de adaptação, em outros também a complementação de matérias ou mesmo um mestrado específico. O mesmo acontece na área jurídica, em que a procura é mais específica para quem tem negócios no Brasil, mas que tem exigências para o exercício local.

Este é um ponto atrativo para outro país que tem recebido muitos brasileiros: Portugal. Em muitas áreas há acordos, como no direito, em que o profissional brasileiro pode obter o licenciamento para exercer a profissão e vice-versa. Apesar disso a maior parte dos migrantes para Portugal está em outros dois públicos: o que vai a estudo em alguma das excelentes universidades portuguesas ou o aposentado que vai curtir sua senioridade. “Quem está em idade mais produtiva, que ainda precisa de ganhos financeiros, tem filhos pequenos para criar, prefere os Estados Unidos, conclui Vinícius Bicalho.

De chinelo a frango frito, os cases de sucesso

Imagem: RossHelen_CANVA

Entre os vários formatos de atuação de brasileiros no exterior apoiados pela sua empresa, Vinícius Bicalho cita a ida para os Estados Unidos da Sodiê, especialista em bolos que tem 320 lojas no Brasil, que hoje tem duas lojas franqueadas em Orlando.
Outro caso, em que a expertise brasileira é reconhecida, é da Chineláticos, rede de lojas multimarcas de chinelos, que desembarcou na costa norteamericana e em Portugal.
Mas um caso surpreendente foi da Hot ‘n Tender, rede de lanchonetes de frango frito – ou “frango crocante’ como a área é designada- que ousou oferecer franquias na terra do KFC e da ascendente Chicken-fil-a. Numa feira de negócios, os brasileiros atraíram a atenção de Jay Panya, detentor das franquias do Arby’s, Pizza Hut, Dunkin Donuts e mais de uma centena de outras. O negócio foi fechado com a venda da marca para a operação externa.