Claudia Perazio (*)
A persistência da discriminação racial no mercado de trabalho brasileiro é um desafio ainda inegável a ser enfrentado. Segundo a pesquisa “Lideranças em Construção: por que a trajetória de profissionais negros é tão solitária?”, conduzida pela Indique uma Preta, consultoria especializada em Diversidade & Inclusão, em parceria com a Cloo, empresa de investigação e consultoria comportamental, apenas 8% das pessoas autodeclaradas pretas e pardas ocupam cargos de liderança.
Além disso, enfrentam obstáculos como menor índice de escolaridade, falta de fluência em inglês, assim como um ambiente permeado por sofrimento psicológico e insegurança, decorrentes da escassez de oportunidades de crescimento dentro das empresas. Levando em consideração esse contexto, é fundamental destacar que a presença de lideranças negras nas companhias é crucial para promover a diversidade, a inclusão e a equidade no ambiente de trabalho.
Não se trata apenas de uma questão de justiça social, mas também de uma estratégia inteligente de negócios, já que as organizações que abraçam a diversidade estão em melhor posição para prosperar. Ter representantes de diversas origens étnicas nas posições de liderança deveria ser o mínimo, não apenas para refletir a diversidade da população mundial, mas também para empoderar funcionários negros ao demonstrar que existem oportunidades reais de avançar em suas carreiras com base em mérito e habilidades.
Outro ponto crucial é que a diversidade de pensamento impulsiona a inovação. De acordo com uma pesquisa da McKinsey & Company, pode aumentar a lucratividade da empresa em até 15%. Acredito também que aprimora a capacidade de atrair e reter talentos excepcionais de todos os grupos étnicos. Sem falar que uma força de trabalho diversificada reflete melhor a base de clientes em constante evolução, resultando em uma vantagem competitiva significativa.
Líderes negros trazem consigo perspectivas únicas e experiências de vida que enriquecem o processo de tomada de decisão e incentivam a criatividade dentro das companhias. Ao incorporar diferentes pontos de vista, as organizações tornam-se mais aptas a enfrentar desafios complexos e a adaptar-se às transformações do mercado.
A presença de líderes negros nas empresas não apenas fortalece a relação entre a marca e os consumidores pertencentes a grupos minorizados étnicos, mas também amplia o alcance de mercado das organizações. Ao compreender as necessidades e os valores de diferentes grupos demográficos, as companhias desenvolvem produtos e serviços que atendem de forma mais eficaz a uma gama mais ampla de clientes.
Portanto, investir na diversidade e na inclusão não é somente uma decisão ética, mas também uma estratégia inteligente de negócios. Empresas que demonstram um compromisso genuíno com a igualdade de oportunidades têm mais chances de atrair investidores, clientes e talentos alinhados com seus valores e missão, cada vez mais próximos aos pilares de ESG (ambiental, social e governança na tradução para o português).
Fica evidente que ter lideranças negras nas empresas vai muito além de uma questão de justiça social. Ao promover a diversidade e a inclusão em todos os níveis organizacionais, as companhias não apenas criam ambientes de trabalho mais justos e equitativos, como também se posicionam para a construção de um mundo cada vez mais diversificado e interconectado.
(*) – É Gerente de Recursos Humanos da ADP no Brasil (https://www.adp.com.br).