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O que esperar para o futuro do conteúdo em áudio?

em Economia da Criatividade
quinta-feira, 05 de agosto de 2021

No dia 21 de julho, o Clubhouse anunciou que oficialmente encerrou seu sistema de entrada na plataforma através de lista de espera ou convite de usuários. Desta forma, o aplicativo optou por deixar de lado os fatores de escassez e exclusividade para poder gerar mais tráfego em sua plataforma agora que gigantes como Spotify, Twitter e Facebook apresentam uma séria ameaça quando o assunto é a atenção pelos ouvidos dos consumidores. E, ao igual que com produções audiovisuais, o que podemos esperar para o futuro do conteúdo em áudio?

Se você é alguém presente em plataformas digitais, independentemente do tempo que você passe nelas, é praticamente certo que você ao menos escutou falar sobre o Clubhouse, rede social para bate-papo ao vivo que viralizou no final do ano passou e alcançou 9,6 milhões de downloads somente no mês fevereiro deste ano, de acordo com dados revelados pela Sensor Tower. Milhares de pessoas, famosas e não famosas, de inúmeros ramos, criaram e entraram em “salas” de bate-papo, fechadas e abertas ao público, para debater desde os assuntos mais cotidianos aos mais profissionais. De fato, muitos profissionais consideraram (e ainda consideram) o Clubhouse como uma excelente fonte de aprendizagem e networking. Porém, quando algo é inovador e “rouba” a atenção das pessoas, normalmente não demora muito para que a concorrência chegue.

No final de abril, o Facebook oficialmente lançou o “Live Audio Rooms”. No começo de maio, foi a vez do Twitter com o “Spaces”. Na metade de junho, o Spotify oficializou o “Greenroom”. O que esses competidores têm em comum? Uma audiência muito maior que a do Clubhouse, que passa muito tempo nessas plataformas engajando com outras funções e criando conteúdo de diversas formas, e um enorme poder financeiro. Porém, isso quer dizer que é o fim do Clubhouse? Bom, na minha opinião, ainda é muito cedo para dizer. Além disso, as 7,8 milhões de pessoas que baixaram o aplicativo no mês de junho estão aí para provar isso, sendo o segundo melhor mês de 2021 em downloads.

Em um mundo onde o tempo talvez seja uma das coisas mais valiosas para as pessoas, quando se trata de conteúdo, essas mesmas pessoas possuem dois problemas: primeiro, muito conteúdo disponível e “pouco” tempo para consumi-lo. Segundo, uma vontade enorme de consumir a maior quantidade possível de conteúdo. Por isso, não é surpresa ver como todas essas empresas vivem em uma constante competição pela nossa atenção.

Música, podcasts, microcasts, mensagens de voz, aplicativos de bate-papo ao vivo, são múltiplas opções de entretenimento, múltiplas possibilidades de aprendizagem, múltiplas oportunidades de escutar e transmitir diversos pontos de vista e gerar valor para outras pessoas, múltiplas oportunidades de monetizar, seja você o criador de conteúdo, seja você a plataforma que recebe a esses usuários, seja você a empresa que investe nesse conteúdo.

O Spotify, além de ser o principal serviço de streaming de música, vem depositando muitas fichas na indústria de podcasts com aquisições e contratos milionários de exclusividade. Agora, com o Greenroom, não só eles conseguem competir com o Clubhouse como também oferecem a opção para que os criadores dessas “salas ao vivo” possam ter o áudio para convertê-lo em um episódio de podcast. O Twitter posssui milhares de pessoas que acessam a rede diariamente em busca de informações de última hora, além de ser uma plataforma muito popular para podcasts. Com o Spaces, usuários agora também tem acesso a discussões sobre essas informações de última hora.

Como consumidor, não vou negar que faço parte desse grupo que gostaria de ter mais tempo para consumir um pouco mais de conteúdo em áudio. Como profissional dessa indústria, prefiro agradecer a existência de diversas opções para capturar a atenção dos ouvintes do que me queixar da abundância de opções que os deixa mais dispersos. Afinal, é importante estudar e conduzir testes que essas inúmeras plataformas nos possibilitam. Quando o assunto é áudio, como não temos uma imagem para ajudar a capturar a atenção das pessoas, o conteúdo tem gerar ainda mais valor. Caso você consiga impactar seus ouvintes, é bem provável que eles retornem quando novos conteúdos forem lançados ou gravados ao vivo.

A verdade é que a atenção das pessoas nunca esteve não dividida. A verdade é que a grande maioria, hoje em dia, está optando por conteúdo mais curtos e mais dinâmicos. Por outro lado, a verdade é que ainda existe muito espaço para conteúdos imersivos e longos. Na verdade, ao invés de tentar atingir o maior número de pessoas, criadores de conteúdo deveriam segmentar sua distribuição e tentar atingir, de fato, aqueles que realmente querem escutar o que eles têm a dizer independentemente da duração, se o conteúdo for gravado ou for ao vivo. A verdade é que você, como criador de conteúdo, deveria tentar utilizar todas essas opções para gerar valor ao seu ouvinte de distintas maneiras. No final das contas, uma vez que situação atual melhore e pessoas comecem a se “desligar” um pouco mais do âmbito virtual, todas essas plataformas perderão um pouco da atenção das pessoas. E, como temos visto nesta “guerra” das plataformas de streaming, as pessoas vão onde o “talento” estiver.

Guilherme Canineo é ex tenista profissional, jornalista, apresentador e especialista em podcasts. Mestre em Entertainment Business pela Full Sail University e formação em jornalismo pela University of West Florida. Comanda, toda quinta 17:30h, a live “Resumão da Semana” nos canais da Full Sail Brazil Community.