
Guerra tarifária entre EUA e China redesenha rotas comerciais e pressiona empresas brasileiras a se adaptarem a um cenário volátil e estratégico
O comércio exterior brasileiro enfrenta em 2025 um cenário de alta tensão. A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, com elevação de tarifas que chegam a ultrapassar 100% em alguns produtos, está provocando um redesenho nas rotas do comércio internacional. Diante de um contexto inédito, o Brasil se vê pressionado a diversificar mercados, rever contratos e adotar estratégias que garantam fôlego e estabilidade às suas exportações.
De acordo com dados divulgados pela CNN Brasil, o país atingiu, no primeiro trimestre deste ano, recordes históricos nas correntes de comércio com as duas maiores potências mundiais. Ao mesmo tempo em que amplia sua presença em mercados como o chinês, o Brasil também enfrenta riscos de impacto indireto pelas retaliações cruzadas entre Washington e Pequim.
Novas rotas e exigências internacionais
O cenário de instabilidade global tem empurrado o Brasil para acordos bilaterais com novos parceiros, especialmente no Sudeste Asiático e na Europa Oriental. O crescimento da demanda por alimentos, commodities agrícolas e soluções sustentáveis abre espaço para a exportação de produtos brasileiros, mas impõe exigências mais rígidas em termos de rastreabilidade, governança e adequação ambiental.
“Não basta apenas encontrar novos compradores. As exigências mudaram e os mercados mais promissores são também os mais criteriosos. É necessário repensar processos, adaptar portfólios e garantir conformidade regulatória para não perder espaço”, afirma Thiago Oliveira, CEO da Saygo, holding especializada em comércio exterior, câmbio e soluções tecnológicas para operações internacionais.
Estratégia para enfrentar o protecionismo
Além de adaptar seus produtos às novas exigências, as empresas brasileiras precisam lidar com os efeitos do protecionismo em alta, especialmente nos Estados Unidos, após a reeleição de Donald Trump. Tarifas aplicadas a produtos importados e revisões unilaterais de acordos comerciais têm gerado incertezas e dificultado o planejamento de longo prazo dos exportadores.
Segundo Oliveira, a resposta a esse ambiente exige planejamento tributário, digitalização dos processos logísticos e fortalecimento da governança. “O maior erro é reagir tardiamente. As empresas que saem na frente, estruturam sua operação e buscam apoio técnico conseguem minimizar riscos e até ganhar competitividade nesse cenário”, pontua.
As estratégias mais utilizadas em 2025 incluem o uso de regimes como o Drawback, renegociação de contratos internacionais com cláusulas de flexibilidade cambial, e ampliação de acordos diretos com distribuidores em mercados alternativos. Ao mesmo tempo, cresce o uso de inteligência de dados e modelos preditivos para antecipar variações de demanda e custo logístico.
“Crescer de forma desorganizada é uma armadilha. A escalabilidade precisa ser construída com base em processos sólidos, visão estratégica e leitura constante do mercado global. A expectativa é que o Brasil consiga manter sua relevância no comércio internacional, desde que invista em adaptação contínua e inteligência competitiva. A previsibilidade deixou de ser regra e quem se antecipa sai na frente”, reforça o CEO da Saygo.