Daniel Schwebel (*)
Antes de o mundo inteiro se ver tomado por uma pandemia que nos impôs repentinamente o isolamento social, implementar o trabalho remoto acabava por ficar restrito às poucas empresas que ousavam inovar – se é que em pleno século XXI ainda é possível chamar home office de inovação, e não de evolução natural para acompanhar as necessidades do mercado, da sociedade, e do desenvolvimento tecnológico.
Hoje, a descentralização do trabalho se disseminou, e escancarou a pequenas, médias e grandes empresas que o temor da queda na produtividade não passava de falta de hábito, e até de certo conservadorismo acerca de relações corporativas não convencionais.
Cogitar adotar o teletrabalho estava, a meu ver, equivocadamente atrelado a assumir o risco de ter quedas expressivas nos resultados. O pensamento era de que não haveria progresso, mas a Covid-19 fez acelerar esse processo rumo à flexibilização do modelo antigo de trabalho, e os resultados mostram outra perspectiva sobre produtividade nesse novo modelo.
De acordo com o relatório anual da Workana, para 71% dos executivos, o desempenho em casa está igual ou superior ao do escritório. Isso porque nem estamos experimentando um home office de fato, mas sim uma situação adversa com filhos e familiares em casa 24 horas, com a impossibilidade de sair, sob a ameaça de um inimigo invisível, e sem poder usufruir de vantagens do trabalho remoto – como a tranquilidade de trabalhar de qualquer lugar, e ter autonomia sobre os horários, por exemplo.
É inegável que se ganha em qualidade de vida, poupa-se tempo, e se vê praticamente desaparecer o estresse causado pelo trânsito – que em algumas cidades chega a tomar 3 horas do dia de um trabalhador que precisa se deslocar até o escritório. Abre-se a possibilidade de, nesse tempo extra, fazer novas atividades, estudar, se dedicar a um hobby que, até então, tinha ficado esquecido, fazer freelas, aproveitar mais a família.
São inúmeros os benefícios, tanto que não é nada difícil entender porque 70% dos executivos brasileiros se sentem motivados a seguir remotamente depois do término do período de isolamento compulsório, e porque 81,9% deles acreditam que sua produtividade foi excelente ou muito boa .
Pela visão dos profissionais, os números são bastante positivos. Mas será o trabalho remoto benéfico também às empresas? Para 31,4% dos líderes, manter a equipe produtiva foi o principal desafio durante a pandemia. 63,2% deles disseram ter notado que a produtividade dos funcionários aumentou ou permaneceu a mesma. Então, fazendo um balanço, tudo certo no quesito desempenho.
Porém, trago uma reflexão importante sobre o quão fundamental a comunicação assertiva se tornou nessas relações à distância, e como o gestor tem um papel essencial à motivação dos colaboradores, pois é aqui que está a resposta sobre obter ou não sucesso com equipes remotas.
Minha percepção é de que talvez o mito da baixa produtividade no home office tenha sido criado pela dificuldade de adaptação das empresas aos novos desafios impostos por novos modelos de trabalho, como a preocupação com a saúde mental dos colaboradores, por exemplo. Portanto, o foco neste momento tem que estar sob a gestão.
Estar sempre presente para direcionar, mas, ao mesmo tempo, ter empatia e deixar o funcionário livre para atuar de forma a extrair seu melhor, nos horários que achar melhor, e como se sentir melhor, é um grande passo. Mas o ponto-chave aqui acredito ser ouvir.
E esse ouvir vai desde a opinião do empregado em relação aos processos diários, a como ele tem se sentido, do que precisa para desenvolver bem seu trabalho, se necessita de suporte psicológico, suporte técnico, e demais percalços que possam surgir. Não à toa, as empresas que mais se saíram bem durante a quarentena, foram as que ouviram e atenderam às necessidades dos funcionários.
Neste ano atípico que está sendo 2020, evoluímos 5 anos em poucos meses no que tange trabalho remoto. Que com isso, nossos processos e nossa mentalidade acerca das diferenças – e das vantagens e desvantagens que elas trazem – também evoluam, porque estamos diante de um modelo trabalho que deve de consolidar e crescer a cada ano.
(*) – Formado em marketing e pós em Gestão de Negócios e Valorização de Empresas pela FIA, é Country Manager da Workana no Brasil.