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O futuro pede equipes multilíngues

em Destaques
segunda-feira, 20 de junho de 2022

Martin Perri (*)

Falar um segundo e também um terceiro idioma é um pré-requisito que dez entre dez empresas não podem abrir mão. E não me refiro somente às multinacionais: as empresas brasileiras também já entenderam a importância de contar com colaboradores preparados para se comunicar em outros idiomas, porque sabem que, nas expansões da operação (o que inclui fusões, aquisições, inclusões de fornecedores e estabelecimento de novas parcerias), eles são imprescindíveis.

Por este motivo, um dos principais desafios dos Recursos Humanos atualmente tem sido montar equipes com funcionários multilíngues, capazes de solucionar questões em outras línguas (sim, no plural, porque falar inglês virou obrigatório há muito tempo). No caso do espanhol, por exemplo, antigamente acreditava-se que falar este idioma era um diferencial e tanto no currículo – o que era uma verdade há 20 anos.

Agora, saber espanhol é uma exigência de muitas empresas, enquanto nos países vizinhos de língua espanhola, solicita-se que os colaboradores aprendam o português. Por quê? Porque a comunicação fluida entre os povos da América Latina é uma porta de entrada para acessar novos e mais atraentes mercados. Além disso, há uma grande necessidade de talentos em áreas como engenharia e carreiras digitais.

A possibilidade de estudar a contratação de pessoas que estão em diferentes países também permite à empresa um leque maior de candidatos. Apesar da necessidade saltar aos olhos, a realidade é que é difícil encontrar pessoas no patamar que as empresas desejam. Segundo pesquisa realizada pela Catho, a diferença salarial entre uma pessoa bilíngue e outra que tem apenas o conhecimento básico da língua pode chegar a 70%, a depender do nível hierárquico.

Isso porque o número de brasileiros que falam idiomas considerados corriqueiros, como inglês, é tão baixo que as empresas oferecem compensações acima da média para suprir esta demanda no mercado para atrair e reter profissionais qualificados.
Em estudo da Hays, o inglês aparece como a língua mais requisitada na comunicação interna das empresas, com 91%, seguida do espanhol, com 42%.

Mas segundo a Catho, apenas 5% da população brasileira fala uma segunda língua e menos de 3% são, de fato, fluentes no inglês. Ainda mais porque o anseio por equipes multilíngues está diretamente ligado à construção de comunidades e culturas internacionais corporativas, que contribuem para um ambiente de trabalho positivo no qual a empresa deseja ver melhor seus próprios funcionários.

Alguns levantamentos apontam que empresas que contam com maior diversidade têm mais chances de apresentar lucros superiores às demais. O estudo “A diversidade como performance”, da consultoria McKinsey & Company, estima até 35% a mais de lucratividade. Uma companhia com exemplos de diversidade e inclusão tem ainda uma equipe de funcionários mais engajados e que apresentam menos conflitos internos.

Isto é especialmente verdadeiro nos casos em que a empresa e o funcionário estabelecem um PDI (Plano de Desenvolvimento Individual), voltado para a aprendizagem de novas habilidades na busca por novos objetivos. Equipes multilíngues são mais capazes de participar ativamente de projetos de inclusão justamente por estarem inseridas em outras culturas pelo elo chamado idioma.

São pessoas que têm mais afinidades e interesses com outras comunidades, afinal elas já foram apresentadas a outros costumes e perspectivas. Elas têm mais empatia. Embora haja uma enorme necessidade de contratar talentos entre fronteiras, existe também um problema de desigualdade no que diz respeito às habilidades linguísticas dos funcionários; é um problema de comunicação entre as equipes transfronteiriças e os clientes.

Mesmo para empresas com as melhores intenções, é um obstáculo operacional para o treinamento de idiomas em escala. É preciso criar estratégias para conseguir fazer as equipes chegarem ao nível que se deseja. Por isso, muitas empresas apostam no desenvolvimento dos colaboradores que já fazem parte de seu quadro. A capacitação e a educação dos funcionários também se esgota na solução do problema de comunicação nas equipes e na criação de uma cultura melhor nas empresas.

Ela não apenas ensina uma nova habilidade, mas também leva a uma maior compreensão e relacionamento aberto com pessoas de outros países. Sem dúvidas, a educação linguística é uma forma de desenvolvimento e inclusão social. E a saída é trabalhar para que as equipes sejam cada vez mais multilíngues.

(*) – É CEO e fundador da Nulinga (https://nulinga.com/pt-br).