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Monetizando dados

em Destaques
segunda-feira, 10 de julho de 2023

Os dados se tornaram a principal matéria-prima da 4ª Revolução Industrial e ganhar dinheiro com eles virou uma grande oportunidade de negócio. Isso porque assim que as empresas começaram a armazenar, analisar e agir com base em insights de forma estratégica, elas rapidamente descobriram que tinham mais informações do que sabiam o que fazer com elas.

Então, a solução que muitas encontraram foi simplesmente vender essas informações disfarçadas de produtos ou serviços. Fazendo isso, elas conseguiram construir alguns dos maiores impérios corporativos e as marcas mais famosas do mundo.

No entanto, ganhar dinheiro com dados não é, de maneira alguma, apenas para gigantes do Vale do Silício. Qualquer empresa pode monetizar seus dados. Existem duas rotas testadas e comprovadas para fazer isso: vendê-los para criar novas fontes de receita ou usá-los para aumentar o valor de sua própria empresa.

Construindo valor para sua empresa através de dados
Para muitas companhias, os dados são um ativo extremamente importante; de fato, muitas vezes são um dos ativos mais valiosos que possuem.
Um grande número de aquisições estratégicas de alto perfil aconteceu nos últimos anos, onde o valor para o comprador veio principalmente dos dados que a empresa tinha.

Por exemplo, a Amazon comprou a varejista Whole Foods Market, em 2017, por $13,7 bilhões, uma das aquisições mais caras que já fez. O que tornou o negócio atraente não foi apenas a cadeia de lojas de varejo da Whole Foods, mas os dados que ela acumulou ao longo de seus 40 anos de operação.

Esses dados sobre hábitos de compra de alimentos ajudaram a Amazon a planejar sua participação no setor de produtos frescos. A gigante agora oferece entregas desse tipo de mercadoria em menos de uma hora em algumas áreas – algo que não teria conseguido sem as informações estratégicas que ganhou com a aquisição.

É por isso que os dados estão sendo cada vez mais vistos como de alto valor quando se trata de avaliar uma companhia e analisar o preço de suas ações. Durante o processo de falência da cadeia de cassinos Caesars, os dados contidos em seu programa de fidelidade Total Rewards foram avaliados em $1 bilhão – era seu ativo mais significativo. E durante a pandemia, a United Airlines usou os dados de seu programa de passageiros frequentes MileagePlus como garantia para um empréstimo de $5 bilhões que precisava para se manter em operação.

No geral, ter acesso a dados sobre mercados menos explorados ou comportamentos de clientes pode tornar as empresas mais atraentes para grandes players que procuram alavancar novas tendências emergentes.

Dispositivos inteligentes para casas têm sido um enorme mercado em crescimento, foi avaliado em $50 bilhões em 2022. O Google claramente antecipou isso com a compra da Nest, uma empresa especialista em automação residencial inteligente. Entendendo o impacto que os dispositivos inteligentes para casa e a “computação ubíqua” teriam na próxima década, o Google fez essa jogada não apenas para ter uma linha pronta de dispositivos, mas também pelos dados sobre como os primeiros adotantes estavam aprendendo a coexistir e interagir com os novos tipos de termostatos inteligentes, câmeras de segurança e alarmes.

É revelador que, entre as empresas Fortune 500 de 2020, classificadas por valor, todas as cinco primeiras posições são ocupadas por companhias que investiram pesadamente em dados e na própria capacidade de coletar e analisar – Microsoft, Amazon, Apple, Alphabet e Meta. Todas essas empresas têm uma avaliação estratosférica porque o mundo dos negócios está plenamente ciente da importância do velho ditado: “conhecimento é poder”.

Construindo produtos e serviços para vender dados
Os dados podem ser vendidos como um produto ou serviço. Além disso, podem ser comercializados em sua forma bruta ou na forma de insights. É assim que empresas de internet como Google e Meta cresceram de startups universitárias para gigantes mundiais. Na raiz do modelo de negócios dessas empresas está um serviço que é fornecido sem custo monetário para o usuário final e um serviço de venda de dados para outras marcas.
E não são só o Google e a Meta que fazem isso. Essa é uma prática que já se tornou comum em diferentes meios:

NO SETOR FINANCEIRO
No setor financeiro, as principais companhias de cartões de crédito vendem informações derivadas de seus dados de transações como insights para varejistas, seguradoras e provedores de utilidades.

EM AGÊNCIAS DE CRÉDITO
Isso também é verdade para agências de referência de crédito como Experian e Equifax. Ambas as empresas coletam dados de compras, gastos e hábitos de pagamento, que são vendidos para outras empresas. Na verdade, elas até vendem de volta para os próprios assuntos dos dados (ou seja, nós), fornecendo serviços de assinatura que nos permitem verificar nossas classificações de crédito e avaliar nossa probabilidade de obtê-lo.

NAS EMPRESAS DE LOGÍSTICA
Empresas de logística foram rápidas em capitalizar as possibilidades de venda de dados. O distribuidor farmacêutico finlandês Tamro descobriu que tinha uma visão mais ampla das tendências de compra do que as empresas farmacêuticas que lhe fornecem ou as farmácias locais para as quais vende. Isso permitiu que ele começasse a vender dados tanto para cima quanto para baixo em seu setor.

ONLINE
Mercados de dados também surgiram online, onde qualquer empresa que acha que pode ter um conjunto de dados valioso trata de colocá-lo à venda. Um desses mercados é administrado pela Snowflake, que oferece dados de saúde, demográficos, meteorológicos, financeiros e muitos outros tipos de insights de vendedores terceirizados.

DADOS EM TEMPO REAL
Os casos de uso mais avançados hoje, no entanto, buscam oferecer insights simultâneos com base em dados em tempo real. A Cosmose AI coleta dados anonimizados de smartphones – mais de um bilhão deles – bem como de sensores de lojas, que são usados para modelar o movimento das pessoas em ambientes de varejo. Seus clientes, que incluem Walmart, Gucci e Samsung, usam as informações para entender os comportamentos de compra, a fim de fazer melhor uso dos espaços de venda que têm.

Durante a pandemia, esse método provou ser particularmente útil para compreender como os comportamentos estavam mudando, muitas vezes diariamente.
A maioria das empresas começa sua jornada em direção à transformação orientada por dados usando as informações para melhorar seus próprios produtos e serviços ou para criar eficiências internas. No entanto, à medida que amadurecem na capacidade de coletar, analisar e executar com base em insights, muitas vezes, se torna evidente que existem maneiras de monetizar diretamente também.

Entender os dados que sua empresa possui e como eles podem ser valiosos para uma variedade de compradores, seja dentro ou fora de sua base de clientes habitual, é a chave para embarcar nesta poderosa tendência.

Ps. Os valores das transações entre as empresas citadas foram retirados do site (https://bernardmarr.com/).

(Fonte: Denys Fehr, CEO & Partner da Just a Little Data, DDDM (Data Driven Decision Making) da B&Partners.co)