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Modelo de trabalho híbrido: por que esse caminho ainda tem desafios?

em Destaques
quinta-feira, 01 de dezembro de 2022

A pandemia trouxe mudanças para o modelo de trabalho nas empresas. A necessidade do isolamento fez com que grande parte dos colaboradores tivesse que transferir sua mesa de trabalho para dentro de casa, e participar de reuniões vendo as pessoas atrás da tela do computador.

No entanto, com o avanço da imunização, a volta da rotina às companhias ganhou vida novamente e para os colaboradores, equilibrar a vida profissional e pessoal por meio do trabalho híbrido virou uma das condições mais importantes para aceitar uma nova oferta de trabalho ou permanecer na cadeira. Fabio Cassab, sócio da EXEC, consultoria especializada em Capital Humano, aponta que o tema vem sendo discutido atualmente no universo corporativo, mas ainda sob uma ótica restrita.

“As discussão sobre o que é trabalho híbrido ainda está sendo feita sem profundidade, sob um olhar restrito totalmente ao ambiente corporativo”. Ele brinca que o modelo de trabalho virou um tema que passou a fazer parte do grupo de assuntos que “não se discutem”, como política, religião e futebol. “As conversas sobre o tema acabam em discussões acaloradas, pois os profissionais colocam sua opinião pessoal e ninguém coloca na pauta o que é melhor para a organização, que, por sua vez, não se materializa para trazer seu ponto de vista”.

Destaca que durante o trabalho de campo, com entrevistas com candidatos a vagas e empresas que estão em busca deles, tem procurado ouvir muito para ampliar a visão sobre o assunto. “Busco entender o que a empresa faz, a sua opinião sobre o modelo de trabalho, como é esse cenário lá fora para eu tentar me cercar de informação para opinar com mais base sobre o modelo de trabalho”. Enfatiza que ainda é preciso caminhar algumas casas na evolução da discussão sobre o modelo de trabalho híbrido e que já coleciona alguns aprendizados.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2020, primeiro ano de pandemia, 1 em cada 10 trabalhadores brasileiros ficou de home office. Ou seja, 90% da força de trabalho brasileira não pode pensar em trabalhar de casa, pois atuam em fábricas, áreas operacionais, varejo, serviços ou até mesmo na rua. “São colaboradores que executam um tipo de trabalho que depende da presença deles no local. Isso não dá chance para eles questionarem se podem ter um modelo diferente de atuação”, afirma.

Cassab ressalta que hoje apenas uma pequena parcela dos profissionais — o que ele classifica como topo da pirâmide — que pode discutir de onde irá desempenhar suas funções profissionais no dia seguinte. E isso se estende até mesmo para cargos executivos. Destaca que, enquanto um diretor financeiro pode trabalhar de casa, o diretor industrial não pode se ausentar da operação.

“Pessoas de RH, durante conversas ao longo da pandemia, chegaram a mencionar casos de diretores de fábrica questionando se a vida deles valia menos do que a do diretor financeiro, que tinha todos os benefícios de poder trabalhar de casa, o que não acontecia com ele”. Exemplifica a proporção de funcionários que podem ou não fazer home office de uma indústria.

“Se ela tem 5000 funcionários, 4.500 deles não podem pensar em modelo de trabalho híbrido, pois trabalham em funções que não permitem o home office. Por isso, parece uma discussão leviana falar que o futuro do trabalho é híbrido”. Para trazer maior amplitude para o modelo de trabalho híbrido no Brasil, se isso ocorrer, teria que haver uma mudança de legislação, incluindo carga horária reduzida, rodízio de colaboradores. “São discussões que fogem do modelo atual de trabalho de um supermercado atualmente, por exemplo”.

O especialista ressalta que a visão sobre o modelo de trabalho híbrido ainda está muito voltada para os benefícios e pouco direcionada para as desvantagens. “Muitos profissionais estão preocupados se vão trabalhar no conforto de casa ao invés de interagir, aprender e trocar mais com seus colegas mais experientes e líderes. Abrem mão até de ganhar mais pelo home office”.

Uma das competências exigidas para a contratação dos executivos no passado — que é a mobilidade para ascender na carreira — está ficando de lado. “Muita gente tem aberto mão de avançar na carreira para obter mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Não digo que isso é certo ou errado, mas não podemos dizer que esse será o futuro do trabalho”, destaca. Muitas empresas têm tido dificuldade de contratar profissionais por conta desse tipo de fortalecimento de visão sobre o trabalho. Muitas delas acabam aceitando as exigências dos profissionais porque não tem opção.

Muitas adotaram esse caminho como estratégia de retenção. Ou há flexibilidade ou não é possível concluir o preenchimento de uma vaga. Ainda há um longo caminho de amadurecimento do mercado de trabalho híbrido no Brasil. É importante reforçar o questionamento do que é ou não fundamental nessa nova jornada. Não podemos dizer para onde caminhar, pois ainda há muito a ser construído. – Fonte e outras informações, acesse: (https://www.exec.com.br/).