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Inteligência Cultural: os impactos no dia a dia das organizações

em Destaques
sexta-feira, 20 de março de 2020

Viviane Vicente (*)

Uma das mais célebres frases de Santo Agostinho é “Na essência somos iguais; nas diferenças, nos respeitamos”. Uma interessante reflexão sobre o saber se relacionar e respeitar as contradições das relações humanas. A Inteligência Cultural (IC) é a capacidade de se relacionar e trabalhar efetivamente em situações culturalmente diversas. No mundo globalizado e multicultural de hoje, é importante que as organizações identifiquem indivíduos que possam atingir seus objetivos com sucesso e de forma respeitosa, independentemente do contexto cultural.

Além da consciência cultural e da sensibilidade, a Inteligência Cultural atua para maximizar o desempenho de indivíduos e equipes em contato com diferentes culturas, mesmo dentro da mesma região geográfica, quando a diversidade estiver em jogo. Pesquisa publicada no Journal of International Education in Business mostra que organizações em que há diversidade e onde a Inteligência Cultural é praticada em suas equipes superam em muito o desempenho de companhias com equipes homogêneas.

A Inteligência Cultural de um indivíduo pode prever seu desempenho ao trabalhar em situações culturalmente diversas. Ela é o fator decisivo entre fazer com que diferenças culturais promovam ou impeçam a inovação e o crescimento. E a diversidade não precisa ser, necessariamente, relativa a outros países: equipes que contam com pessoas de diferentes gerações, gêneros e origens socioeconômicas terão uma multiplicidade de valores, preferências e estilos de comunicação. Sem Inteligência Cultural, essa diversidade pode gerar conflitos.

Mas as ferramentas de IC ajudam a combinar e complementar essas diferenças; somente a partir desse entendimento entre membros de um time é que os talentos podem se revelar e a inovação ocorrer. A IC pode também prever resultados quando se atua entre fronteiras culturais, aumentando a probabilidade de uma empresa cumprir com sucesso sua missão no mundo globalizado e multicultural em que vivemos. Para ilustrar, cito alguns exemplos do que a IC pode ajudar a compreender em um ambiente corporativo.

Um profissional cuja preferência é fazer planos de longo prazo, calculando os resultados de um projeto extenso, pode ser surpreendido por um cliente que deseja saber que resultados podem ser obtidos imediatamente, e terá que se adaptar a isso. A dificuldade dessa tarefa pode variar, tratando-se de alguém vindo de um ambiente estável, com condições previsíveis, ou de uma organização, sociedade ou economia sujeitas a mais intempéries. Um gestor de equipe com estilo de comunicação indireta pode não passar a mensagem desejada durante uma reunião de feedback, ao lidar com um se o funcionário estiver habituado a receber mensagens incisivas (se negativo) ou claramente elogiosas (se positivo).

O aumento da diversidade nas organizações e a necessidade de promover a inclusão e a eficiência entre as equipes tornam a IC indispensável para organizações das mais diversas matizes em todo o mundo. Seja a empresa de pequeno, médio ou grande porte, é necessário capacitar líderes, funcionários e outras partes interessadas em avançar simultaneamente os valores e as necessidades das equipes e clientes e, ao mesmo tempo, adaptar-se às culturas impactadas pelo trabalho.

A IC tem grande valor, ainda, ao ampliar o entendimento de novos mercados: empresas que desejam iniciar operações ou vender produtos em uma região ou pais pela primeira vez, ou para um segmento até então inexplorado, devem compreender quais são os valores culturais, normas e costumes sociais, o que e desejável ou inaceitável dentro daquele grupo, a fim de oferecer o produto certo, com a estratégia de marketing certa. Há inúmeros casos de grandes empresas, consagradas em sua área de atuação original que, ao adentrar um novo mercado, fracassaram por não entender o novo público-alvo.

Nesse processo, vultosos investimentos e empregos foram perdidos, sem falar do impacto no valor das marcas e perdas aos investidores.
Felizmente, a Inteligência Cultural pode ser medida e melhorada: avaliações do nível de IC estão disponíveis, identificando deficiências e pontos fortes de indivíduos e equipes quanto aos seus quatro elementos: motivação de IC, conhecimento, estratégia e ação.

Os valores culturais mais característicos dos dez grandes grupos culturais do mundo podem, também, ser identificados, ajudando assim a entender como um indivíduo enxerga a sociedade, os negócios e as relações, e como se relacionar com quem tem outra visão de tudo isso.

(*) – É Consultora de Competência Cultural e Fundadora da Rispetto Consulting – empresa de consultoria projetada para ajudar indivíduos e organizações a navegar no mundo globalizado e aprimorar seu potencial de liderança.