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A inclusão financeira dos “Invisíveis”, para um sistema financeiro democrático

em Destaques
segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Rafa Cavalcanti (*)

Um estudo da Serasa Experian revelou que 35,3 milhões de brasileiros estão sem registros econômicos, o que representa 21,7% da população adulta do país. Conhecidos como “invisíveis financeiros”, não possuem contas de consumo, financiamentos, empréstimos ou faturas de cartão de crédito registrados em seu CPF, consequentemente, não estão no cadastro positivo. Sem dados, essas pessoas “não existem” para o sistema.

O ranking é movido por dados e, sem eles, não há Cadastro Positivo ou Open Finance que ajude a dar visibilidade a essa parte da população. Vê-se aqui o dilema de que não há inclusão porque não há dados, e não há dados porque não há inclusão. Há-se de criar esses elementos, porque esses indivíduos existem na sociedade, possuem renda, consomem e são ativos.

. O perfil dos invisíveis – Geralmente, esses indivíduos não utilizam crédito formal, alugam uma casa e não têm conta de água e energia no nome, usam telefone pré-pago, entre outras ações que resultam na falta de atividade recente em seus históricos bancários. O estudo ainda mostra que 80,5% desses cidadãos não estão negativados, o que significa que embora não tenham histórico de crédito, não possuem dívidas em aberto.

A falta de informações sobre o histórico financeiro impacta negativamente o score de crédito. Esse cenário dificulta a obtenção de aprovações para empréstimos, cartões de crédito e até mesmo serviços como telefonia e internet. A exclusão financeira impede que um grande contingente da população tenha acesso a oportunidades econômicas que poderiam melhorar sua qualidade de vida.

Incluí-los no sistema monetário é fundamental para promover um desenvolvimento econômico mais inclusivo e equitativo. Aqui estão algumas razões pelas quais a inclusão financeira é vital:

  1. – Redução da desigualdade social – A inclusão financeira proporciona acesso a serviços que podem melhorar a qualidade de vida, como crédito para educação, saúde e empreendimentos. Isso ajuda a reduzir a desigualdade social ao fornecer ferramentas para a ascensão econômica;
  2. – Estimulação da economia – Quanto mais pessoas têm acesso a serviços financeiros, há um aumento no consumo e no investimento. Isso estimula a economia e promove um ciclo virtuoso de crescimento econômico;
  3. – Empoderamento individual – A inclusão financeira oferece às pessoas a capacidade de gerir melhor suas finanças, planejar melhor o futuro e lidar com emergências financeiras de forma mais eficaz;
  4. – Fortalecimento do sistema financeiro – Com mais pessoas participando da economia, há um aumento na base de clientes e na diversidade de perfis de crédito, o que pode levar a um mercado financeiro mais robusto e resiliente.

Para incluir os invisíveis no sistema, é essencial adotar novas abordagens e estratégias inovadoras. Para isso, é preciso estar atento ao:

  1. – Desenvolvimento de produtos financeiros inclusivos – Criar produtos e serviços adaptados às necessidades e realidades dos invisíveis, como nano-créditos e contas digitais simplificadas;
  2. – Educação financeira – Implementar programas de educação financeira que ensinem a importância do crédito, gestão de finanças pessoais e planejamento financeiro, especialmente focados na realidade de comunidades marginalizadas;
  3. – Uso de tecnologias inovadoras – Utilizar a inovação para criar soluções de verificação de identidade e avaliação de crédito que não dependam exclusivamente de históricos bancários tradicionais.
  4. – Parcerias público-privadas – Estabelecer colaborações entre governos, instituições financeiras e organizações privadas para desenvolver políticas e programas que impulsionam a inclusão financeira e apoiem os invisíveis na integração ao sistema financeiro.

Promover a inclusão dos invisíveis é um passo crucial para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Com esforços conjuntos e estratégias inovadoras, é possível transformar a vida de milhões de brasileiros, proporcionando-lhes acesso a oportunidades que antes estavam fora de seu alcance.

(*) – É cofundadora e CEO da CloQ, startup que oferece nano-crédito com transparência (https://cloq.com.br/).