Marcelo Fernandes (*)
Antes do crescimento da pandemia do novo coronavírus, já existiam inúmeras iniciativas para implantar e refinar processos de transformação digital nas empresas. Entretanto, impulsionado pelo avanço da gravidade da crise gerada pela Covid-19, essas iniciativas têm sido amplamente aceleradas. Mas daí você pode perguntar: mas o que seria exatamente essa tal de transformação digital e como ela poderia ajudar as empresas a ganharem agilidade, sobretudo em momentos como esse, de crise?
De acordo com a Startse, a maior plataforma de startups do Brasil, “transformação digital é o processo de mudança ou melhoria de desempenho de um modelo de negócio corporativo, com base na utilização de ferramentas digitais e tecnologias inovadoras, para que ocorra a substituição de práticas exercidas anteriormente, aprimorando ainda mais a experiência do cliente, bem como a obtenção de vantagens competitivas”.
A partir disso, vemos que se trata de algo que envolve não apenas tecnologia, mas também mudança de processos, hábitos e pensamentos, além de direção estratégica bem definida para o caminho que deseja percorrer cada corporação que a implementa. Por conta do impacto que a pandemia tem causado no modo de as pessoas trabalharem e se relacionarem, a adaptação ao trabalho remoto certamente tem sido um dos elementos mais evidenciados do impacto da transformação digital em nosso dia a dia.
Entretanto, há muitas outras variantes que compõem processos de transformação digital nas empresas. Entre seus diversos componentes, destacam-se 12 elementos, com maior ou menor influência, dependendo da indústria de atuação:
- – Open Banking – Esse elemento está ligado ao compartilhamento de dados bancários do cliente com aplicativos de serviços agregados de planejamento financeiro como GuiaBolso e Conta Azul, entre muitos outros. Logicamente, esse compartilhamento só acontece com o consentimento do cliente, mas é uma forma muito interessante de prover ao cliente benefícios gerados por essas plataformas digitais.
- – Tecnologias Móveis – Esse tem sido um forte impulsionador dos processos de transformação digital, aumentando não somente o nível de conectividade entre as pessoas, como também tornando mais escalável o acesso a produtos e serviços de diversas empresas por meio de aplicativos e serviços de mensagens, quase não importando onde estejam os clientes. Dessa forma, atividades como pedir comida em casa, fazer aquela compra no supermercado virtual ou mesmo participar daquela promoção imperdível no varejo ficariam a pouquíssimos cliques de distância do cliente.
- – Internet das coisas – Muito interessante como poderiam ser potencializadas as informações que têm sido geradas por diversos dispositivos como relógios inteligentes, eletrodomésticos, casas conectadas ou equipamentos industriais. A partir delas, as empresas poderiam fornecer serviços de alto valor agregado a seus clientes, como, por exemplo, no que se refere à agricultura de precisão, ajudar o setor de agribusiness a aumentar os níveis de produtividade a partir dos dados coletados por sensores associados a equipamentos como colheitadeiras e, com isso, não apenas monetizar os dados da colheita, como também elevar a qualidade dos serviços prestados aos clientes.
- – RFID (Identificação por Rádio Frequência) – Esse tipo de tecnologia tem um potencial bastante interessante para a digitalização do varejo e do processo logístico de maneira geral, sobretudo impactando a gestão de estoque das empresas, por meio do uso de coletores móveis que possibilitaria a conferência de todo o estoque em um tempo muito menor que o atual. Uma aplicação distinta dessa, mas que muitas pessoas têm ou já tiveram contato, é o ConectCar, serviço que permite evitar enfrentar filas nos pedágios. A etiqueta, colada no vidro do automóvel, é lida toda vez que o veículo passa pelo sensor, enviando informações para uma central e recebendo a liberação (ou não) da cancela.
- – Blockchain – O uso dessa tecnologia pode ser decisivo para aumentar os níveis de segurança das transações e informações que circulam por meios eletrônicos, permitindo rastrear o envio e recebimento dessas informações, separando os dados em pequenos blocos de dados que possuem um elo entre si, gerando mais confiabilidade nos processos de transferência de recursos, documentos, informações confidenciais, entre muitas outras possibilidades.
- – RPA (Automação Robótica de Processos) – Essa aplicação é quase autoexplicativa, tem como propósito ajudar as empresas a automatizar processos que hoje são repetitivos e consideravelmente manuais, reduzindo não apenas tempo de realização e índices de erro, como também deslocar as pessoas para trabalhos mais estratégicos e gerando mais eficiência operacional para os processos de empresas de todos os setores. Exemplos não faltam, desde processos de conciliação contábil, passando por cadastro de informações em sistemas, até a combinação com processos de inteligência artificial para não apenas automatizar processos, como também aumentar a agilidade e qualidade das decisões.
- – Machine Learning & Inteligência Artificial – Ambas têm um papel estratégico nos processos de transformação digital das empresas, por ajudarem a converter os dados em insights e, posteriormente, em decisões que impactem no aumento de eficiência operacional e ajudem a elevar receitas e reduzir custos, resultando em melhores ofertas para o cliente final. Assim, com a ajuda dos algoritmos e conhecimento de negócio, as empresas podem aumentar suas vendas, reduzir custos, melhorar produtos e serviços e ser mais competitivas em seus mercados de atuação.
- – Startups – Constituem elemento central dos processos de transformação digital, já que nascem com funções e especializações bastante específicas e usam a tecnologia como grande aliado para gerar não somente concorrência, como principalmente agilidade às empresas tradicionais. Desde as conhecidas fintechs, que trazem ofertas ao setor financeiro, passando pelas hrtechs (recursos humanos e gestão de pessoas), agritechs (agricultura e agribusiness), lawtechs (setor jurídico), insurtechs (setor de seguros), entre muitos outros segmentos.
- – Chatbots – Esses sistemas de conversação usados para interagir com as pessoas têm ganhado cada vez mais relevância, não apenas para reduzir custos das operações de atendimento, como também, quando associados a sistemas de inteligência artificial baseados em processamento da linguagem natural, gerar interações mais efetivas com clientes e, com isso, ganhos importantes de produtividade, ainda mais em tempos de pandemia.
- – Segurança Cibernética – Cada vez mais, empresas que emergiram em processos de transformação digital têm se exposto a distintos ambientes nas redes virtuais, atraindo atenção de criminosos interessados em invadir seus sistemas e obter vantagens de diversos fins. Para ajudar a aumentar a segurança das operações, uso de inteligência artificial e tecnologia tem papel estratégico no aumento da segurança cibernética, não apenas das empresas, como também de seus clientes e usuários.
- – Metodologias Ágeis – Muito mais associado a processos, o uso de metodologias Agile tem permitido às empresas gerar aumento de eficiência e objetividade na condução e execução de projetos de diversas naturezas, não apenas construindo times multidisciplinares e aumentando a interação entre elas, como também acelerando entregas e impactando em resultado real para companhias de todos os setores.
- – Transformação Interna – De nada adianta ter acesso às mais robustas tecnologias disponíveis no mercado se não existir um processo de transformação interna das empresas para adaptarem-se às mudanças de processo e de mentalidade (mindset), necessárias para libertarem-se do atual modo de fazer (BAU – business as usual), para o novo, mais eficiente, que permita à empresa dar saltos importantes de crescimento e competitividade no cenário de negócios.
Dessa forma, fica claro que a tecnologia é componente fundamental na adoção de estratégias de transformação digital. No entanto, seu efeito será inócuo se a empresa não contar com a abertura das pessoas para adotarem um novo padrão, em busca não apenas do crescimento da empresa, mas também do pessoal, tão importante nessa era de profundas mudanças que estamos vivendo.
(*) – É Especialista em Analytics da FICO (www.fico.com).