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Os espaços de trabalho da nova era

em Destaques
quinta-feira, 25 de junho de 2020

Fernanda Mourão (*)

Há três anos venho pesquisando e fomentando o trabalho remoto, trabalho flexível, espaços de trabalho além do escritório e distribuídos. Quando falava sobre isso, parecia ouvir meu próprio eco, as pessoas não entendiam muito bem, falavam que isso nunca chegaria no Brasil. Quatro meses atrás, escrevi um artigo chamado “Adeus escritório fixo”.

Ali eu contei sobre o fato de a internet e tecnologias nos permitirem trabalhar de qualquer lugar, que não fazia sentido as horas perdidas no trânsito para ir e voltar do escritório, principalmente em cidades como São Paulo, que, apesar do tamanho, se concentra em apenas três grandes centros econômicos (Av. Paulista, Faria Lima e Berrini) e metade da cidade vai todos os dias, no mesmo horário, para eles.

Falei também que o trabalho remoto e flexível era a “tendência do futuro do trabalho” e estava crescendo rumo aos 30% dos espaços de trabalho fora dos escritórios em 2030, como apontavam os estudos. Aí veio o novo coronavírus e o isolamento social forçado e o futuro agora é presente. Estamos na era pós-digital, onde a presença da tecnologia digital é onipresente e seu impacto é sentido em todos os aspectos da vida.

Mas o isolamento nos forçou a usufruí-la de forma ainda mais ativa, precisávamos desse choque para tomar consciência do que era possível fazer com as tecnologias atuais. No trabalho o impacto é forte, elimina e cria profissões, exalta características comportamentais e pede valorização do bem-estar. Com isso, os espaços físicos precisam ser igualmente repensados. Os escritórios que já vinham sofrendo mudanças, agora são repensados a toque de caixa.

Empresas estudam estratégias de adoção do remoto, distribuição geográfica, descentralização das operações e, consequentemente, a mobilidade dos profissionais e das cidades. O movimento no mercado imobiliário virou quase que 360 graus, de repente, as buscas agora são por escritórios menores e apartamentos maiores.

A reinvenção dos espaços de trabalho acontece em diferentes escalas, desde o espaço interno e tipos de locais, até sua relação com a cidade e mobilidade. São cinco os pontos principais que resumem o futuro que foi acelerado pela pandemia:

1) O trabalho remoto é um caminho sem volta, agora que todos experimentaram os benefícios, ele será essencial, em pelo menos alguns dias da semana, para todos que têm o computador como principal ferramenta de trabalho;

2) Flexibilidade é o novo objeto de desejo da maioria dos colaboradores, seguir as mesmas regras, horários e estar sempre no mesmo escritório das 9h às 18h vai ficar cada vez mais raro;

3) A diversificação dos espaços de trabalhos será cada vez maior, ja que se pode trabalhar de qualquer lugar, o #anywhereoffice , é preciso oferecer uma diversificação de espaços para atender aos diferentes tipos de atividades e localização das pessoas;

4) As sedes das empresas passarão a ser um ponto de encontro para atividades pontuais, colaboração, vivência da cultura e reforçar missão e valores, o dia-a-dia de trabalho acontecerá em muitos outros lugares;

5) Os espaços de trabalho do futuro próximo devem ser multifuncionais, um misto de coworking, centro cultural, espaços de convivência que as pessoas vão quando quiserem/precisarem, de acordo com o tipo de trabalho do dia, do clima, do trânsito, da localização que estiverem e da atividade que vão exercer naquele dia.

Para isso, existem empresas como a Outoo, plataforma de busca e reserva de espaços de trabalho out of office, (daí o nome Out of Office) que nasceu baseada nessa ideia de múltiplas possibilidades para pessoas que têm jornadas flexíveis, mapeamos diferentes tipos de espaços que podem servir para trabalhar por um período, um dia ou vário.

Dos mais “óbvios” como coworkings até padarias e supermercados que disponibilizam espaços para trabalhar, conectando todo um ecossistema disponível para o trabalho flexível e remoto. A escolha não precisa ser binária entre escritório ou home office, pode ser múltipla com infinitas possibilidades, espaços e modelos híbridos.

Ninguém tem ainda todas as respostas, estamos em plena transformação, mudança de era e paradigmas, mas uma coisa é certa, nessa nova era quem vai ser a estrela é a flexibilidade e a gama de escolhas que ela nos proporciona.

(*) – Arquiteta e urbanista, é fundadora da Outoo e filiada do Lide Futuro.