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Pó… ou Vida?

em Colunistas, J. B. Oliveira
segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Pó… ou Vida?

J. B. Oliveira

De acordo com a tradicional narrativa bíblica, registrada nos primeiros capítulos do livro de Gênesis – tradução do hebraico berehit, que significa “no princípio” – Deus criou o homem a partir do pó.

São estas as palavras que descrevem textualmente o fato: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Por sua vez, assim diz o versículo 18 do mesmo capítulo 2: “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só. Far-lhe-ei uma companheira que lhe seja idônea”.

Em outras palavras, farei alguém que tenha sua mesma estatura mental, moral e espiritual. Além, alinham-se as palavras contidas nos versículos 21 e 22, nestes termos: “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu. E tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão”.

Dentro da linguagem das Sagradas Escrituras, assim foram criados o homem e a mulher. Importa, porém, que se atente para um detalhe: o processo como foi feito cada um. Como visto acima, o Homem veio diretamente “do pó da terra”. Estudos na área da etimologia demonstram que, não por acaso, o termo Adão – com que se nomeia o primeiro ser humano do sexo masculino – não é nome de um indivíduo isolado, mas de uma espécie, de uma raça: a raça humana. Tem sua origem na raiz hebraica ‘Adamah’, que significa ‘pó’, ‘terra’.

O nome Eva – atribuído à primeira mulher – também não tem a intenção que lhe atribuímos de dar nome próprio a uma pessoa, mas sim a um ser diferenciado e específico da mesma espécie “Homo sapiens” (o que não quer dizer que ela seria, como “alguém” há algum tempo afirmou, “Mulher Sapiens”…). Na verdade, a palavra Eva procede de uma raiz da língua hebraica: ‘havvah’ ou ‘haiwa’, cujo sentido é ‘vida’.

Isso indica, com clareza, que para fazer o espécime primário homem, Deus recorreu ao pó. Formou-o e inoculou-lhe o “sopro” da vida, ou, em hebraico, ‘rúah’, tornando-o ‘alma vivente’. A propósito, o vocábulo ‘rúah’ traduz-se tanto por ‘sopro’, ‘ar’ como por espírito. Na sequência, para formar a mulher, o Criador não voltou mais ao pó, coisa inanimada, mas usou uma parcela já animada por Seu espírito: uma parte do ser vivo homem!

Isso nos leva à conclusão de que o primeiro clone da história da humanidade não foi a ovelha Dolly, criada pelos cientistas Ian Wilmut e Keith Campbell em 5 de julho de 1996, na Escócia, e cujo corpo, embalsamado, encontra-se hoje no Museu Real, em Edimburgo. Foi, isso sim, a mulher, formada por Deus no início de tudo! Os princípios são os mesmos: a criação de um ser a partir de parcela de outro ser vivo da mesma espécie. No caso de Dolly, foram tomadas células somáticas adultas da glândula mamária de uma ovelha. No de Eva, a ‘contribuição’ foi maior: uma costela de Adão!

O texto bíblico cita que, ao receber a mulher, o homem teria dito: ‘Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porque do varão foi tomada’. A expressão fica mais clara e coerente quando se verifica que, em hebraico, homem é ‘ishi’ e mulher, ‘ishi’a’, ou seja: ‘esta será chamada ishi’a porque de ishi foi tomada’! Ora, dizer que a mulher foi o primeiro clone, de forma alguma a diminui. Pelo contrário: exalta! Explica porque ela é mais delicada, bela e sensível do que o homem: ela é a forma mais evoluída, quintessenciada, melhorada do ser humano…

O poema “O homem e a mulher”, a certa altura, assim se expressa: “O homem é a mais elevada das criaturas; a mulher, o mais sublime dos ideais”… “O homem é o Código; a mulher, o Evangelho. O Código corrige; o Evangelho aperfeiçoa” … “O homem é a águia que voa; a mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço; cantar é conquistar a alma” … “ O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios” … “O homem, enfim, está colocado onde termina a terra. A mulher, onde começa o céu”!

Bem, depois de tudo isso, o que espero é que – na próxima briga – ela não diga para ele: “Cale a boca, porque você é pó!” Menos ainda que passe a dizer por aí que Deus fez o homem primeiro só para ter um rascunho para fazer sua a obra perfeita: a mulher!

 

*J. B. Oliveira, consultor de empresas, é advogado, jornalista, professor e escritor.

É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Cristã de Letras.

www.jboliveira.com.br – [email protected]