Há 20 anos os computadores passariam em definitivo a fazer parte do cotidiano das pessoas. Era lançado o Windows 95 que pelas facilidades e benefícios que trazia, conquistou seu espaço não só nas empresas, mas dentro das casas, nos lares de cada um de nós
Em julho último, a Microsoft lançou o Windows 10 que pode ser baixado gratuitamente e entre os dois, claro, existe um abismo de capacidades. O Windows 95 era vendido em lojas especializadas e chegava em uma caixa contendo oito disquetes a serem instalados no PC. Com o Windows 95 as pessoas começaram a armazenar fotografias e gravações e o computador deixou de ser um objeto de uso exclusivo do escritório, entrando nas residências.
A história começa bem antes, o primeiro computador eletromecânico foi construído por Konrad Zuse, por volta de 1936. Esse engenheiro alemão o construiu, a partir de relês que executavam os cálculos e dados lidos em fitas perfuradas. Zuse tentou vender o computador ao governo alemão, que desprezou a oferta, já que não viram como aquela geringonça poderia auxiliar no esforço de guerra. Os projetos de Zuse ficariam parados durante a Segunda Grande Guerra, dando a chance aos americanos de desenvolver seus computadores. Por sinal foi nessa época que realmente nasceram os computadores atuais.
A Marinha dos Estados Unidos, em conjunto com a Universidade de Harvard, desenvolveu o computador Harvard Mark I, projetado pelo professor Howard Aiken, com base em um calculador analítico. O Mark I ocupava 120m³ aproximadamente, conseguindo multiplicar dois números de dez dígitos em três segundos. Simultaneamente e, em segredo, o Exército dos Estados Unidos desenvolvia um projeto semelhante, chefiado pelos engenheiros J. Presper Eckert e John Mauchly, cujo resultado foi um computador a válvulas, o Electronic Numeric Integrator And Calculator – ENIAC, capaz de fazer quinhentas multiplicações por segundo.
Tendo sido projetado para calcular trajetórias balísticas, o ENIAC foi mantido em segredo pelo governo americano até o final da guerra, quando foi anunciado ao mundo. Neste processador americano, o programa era feito rearranjando a fiação em um painel. Nesse ponto John von Neumann propôs a ideia que transformou os calculadores eletrônicos em “cérebros eletrônicos”, modelando seu formato, conforme o sistema organizacional do cérebro humano. Para isso, teriam que codificar as instruções de uma forma possível de ser armazenada na memória do computador.
Von Neumann sugeriu que fossem usados dígitos 1 e 0. Outra proposta, armazenar as instruções na memória, bem como toda e qualquer informação necessária a execução da tarefa e ao final quando se processasse o programa, se buscaria as instruções diretamente na memória, ao invés de ler um novo cartão perfurado a cada passo.
Este conceito de programa armazenado é o que vigora até hoje, cujas principais vantagens são: rapidez, versatilidade e auto- modificação. Assim funciona o computador programável que conhecemos hoje, onde o programa e os dados estão armazenados na memória. A proposta de Von Neumann se aproximava à da Microsoft de divulgar o programa para que todos pudessem usá-lo. Para divulgar essa ideia, ele publicou sozinho um artigo, mas os seus companheiros não gostaram da decisão. Assim, o projeto ENIAC acabou se dissolvendo em uma chuva de processos, mas estava criado o computador moderno.
No Brasil, um empresário de informática diz ter consigo esses antigos programas e guarda velhos computadores. José Carlos Valle pesquisa o assunto desde 1961 e guarda em um galpão alugado, em Itapecerica da Serra, cerca de 125 mil itens entre computadores, programas e peças digitais que ele pretende transformar no Museu do Computador.
Para isso busca parcerias porque sua proposta é ousada e propõe uma viagem no tempo mostrando a evolução não só dos computadores, mas também dos videogames. Ele admite, “classificar o projeto apenas de Museu do Computador, é algo simples demais, na verdade será uma arena – tech”, antecipa. José Carlos preserva computadores fabricados no Brasil na fase da reserva de mercado, entre 1984 e 1992, quando o país proibia a utilização de tecnologia estrangeira para projetos digitais.
A proposta era formar e desenvolver tecnologia brasileira, especializada na montagem microeletrônica de computadores, arquiteturas de hardware, desenvolvimento de software básico e de suporte, entre outros. Mas não havia no país conhecimento suficiente para se desenvolver algo competitivo com o exterior e hoje tudo aquilo que foi fabricado não serve para absolutamente nada.
“Até uma máquina de escrever tem, cronologicamente, mais tecnologia que os PCs nacionais da Cobra, Cisco e Sharp colocados à venda nessa fase, mesmo assim preservo para efeito de pesquisa histórica, visto que a ideia do museu abrange informação do passado, educação e conhecimento”, avalia o pesquisador digital.
O Museu do Computador por enquanto não está aberto ao público, mas o objetivo é abri-lo o quanto antes. Valle sugere parcerias que vão da doação de máquinas antigas por parte de empresas até financiamentos com base na lei de incentivo a cultura. “Recolher lixo eletrônico para nós é importante porque uma parte vai para o acervo do museu e outra parte nós vendemos e com esses recursos ajudamos na manutenção do projeto”.
Única pergunta que o empresário e curador do Museu do Computador, José Carlos Valle, ainda não pode responder é se o Windows 10 terá alguma chance de no futuro ser tão amado quanto o Windows 95 foi, em sua época. “Essa é uma questão que só o tempo saberá responder”, conclui ficando à disposição dos interessados para parcerias, palestras ou exposições, bem como, aos simplesmente curiosos, os seus endereços para contato.
No twietter: (@curadordomuseu) ou na página instalada na internet: (www.museudocomputador.org.br) ou ainda pelo tel. 4666-7545.
(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected])