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O populista

em Colunistas, Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 01 de novembro de 2018

O populista

O líder identificou os anseios da população e ganhou o poder. Sua linha de campanha eleitoral se ancorou em idéias populares como o autoritarismo, nacionalismo e contra o estado atual de coisas.

Ou antiestablishment, como os cientistas políticos gostam de chamar. Uma das bandeiras mais prestigiada foi o ataque aos políticos, rotulados genericamente de corruptos. É verdade que alguns de fato estavam enlameados até o pescoço, e isto serviu de linha mestra para a sua campanha política. Os ressentimentos sociais contra os políticos eram intensos e o populista se apresentou como aquele capaz de romper com esse sistema.

Está tudo podre, repetia insistentemente. As instituições políticas tradicionais, na sua visão, não eram mais capazes de resolver os grandes problemas nacionais, por isso era preciso uma virada para um governo forte e que impusesse as mudanças que o país necessitava. Afinal o povo não era ouvido pelos que detinham o poder e por isso deveriam ser apeados de um modo ou de outro. A democracia liberal estava agonizante. Era uma tendência mundial, e o populismo grassava especialmente na Europa.

A maioria silenciosa fez sua opção e o populista se apossou do poder. Estava claro para todos que a democracia representativa estava em crise e os partidos políticos desmoralizados. Eram dominados por verdadeiros coronéis, solidificavam as oligarquias regionais e sustentavam uma dinastia de políticos que passava de pai para filho, ou qualquer outro membro do clã. Não representavam a voz da população que os rotulava de corruptos e que não a representava.

Recusavam-se a se modernizar e democratizar sob o medo de perder o controle de largas fatias do Estado e de suas benesses. O líder vencedor foi em busca de outras formas de comunicação de massa para não ter que se submeter à mídia e aos jornalistas com suas perguntas irritantes. Queria um contato direto, sem intermediários, Os veículos também eram entendidos como representantes desta ou daquela parte da elite dominante no páis.

Pertenciam às famílias tradicionais e viviam de verbas públicas generosamente arcadas com o imposto da população. Por isso não mereciam manter as suas portas abertas e jornalistas na redação e o povo não iria se importar se fossem fechadas por forças militares. Era preciso acabar com as influências das idéias e modelos políticos importados. O nacionalismo precisava ser cultuado com os símbolos e canções patrióticas que motivassem a população a apoiar o regime. O hino nacional foi apropriado pelo vencedor.

Ele não se cansava de alertar para os perigos das influências externas e os riscos que corriam a família, a religião e o modo de viver tradicional da nação. Daí o aumento da sensação de insegurança econômica e social resultados das transformações da economia e das relações do trabalho. A propriedade estava ameaçada e isto deixava a elite rural de cabelos em pé. Imagine movimentos rurais de invasão de fazendas e repartição das terras pela força. Era preciso reajustar o organismo político às necessidades econômicas do pais.

O oligarca Getúlio Vargas era um homem atinado às mudanças que aconteciam no mundo de 1930 e sabia como manejar os desejos incontidos de antiestablismente, nacionalismo, intervenção estatal e valores tradicionais. Usou um meio de comunicação novo para falar diretamente com o povo: o rádio. Em nome da salvação nacional das ameaças do comunismo de um lado e do fascismo de outro, com o apoio dos militares, liderou um golpe de estado.

Implantou uma ditadura de direita populista que chamou de Estado Novo e que perdurou até 1945.

(*) – É editor chefe e âncora do Jornal de Record News em multiplataforma.