Listar
O que quiser pode ser listado: de lista de presentes de casamento, lista de pessoas que não vieram ao encontro anual de formandos, lista de dependentes químicos que vivem numa cidade e tudo o que quiser pode-se listar.
É auxiliar ou componente de uma coleta de dados para fins estatísticos ou de algum tipo de ação, como listar usuários de um sistema de financiamento imobiliário. Ou mais simples, como: listar todas as despesas de um mês ou processos pendentes em um Juízo. Listar é anotar em forma de lista, para reunir ou arrolar em só lugar, classificando e/ou inventariando, em ordem alfabética ou não alguma informação que poderá ou não ser tratada.
Listas são publicadas ou checadas a toda hora: dos produtos em desconto, dos alunos que respondem uma chamada, dos créditos que podem ser abatidos em compras, o que pensar pode ser organizado em forma de uma lista. Uma lista que choca pode ser de crianças que foram salvas do gueto de Varsóvia por uma dedicada enfermeira ou a lista de Schindler que resgatou judeus de um campo de concentração.
Somos surpreendidos por listas ao conferir o resultado em um exame de seleção, se consta ou não nosso nome. Há listas para todas as ocasiões ou situações que mexem com ânimos e sentimentos, como uma lista de acidentados, sobreviventes ou mortos, em algum vôo trágico. Há lista que interrompem ou modificam planos, que relacionam demitidos numa empresa em péssima condição financeira, ou há a lista que indica quem conseguirá voar no próximo avião já que sua espera terminou.
A lista é objeto de paciência, pois pode dizer algo ou indicar que se deve esperar, portanto, aguardar que se tenha mais alguma informação. Ela não revela toda verdade, porque é um resumo, uma expressão numérica não detalhada, uma posição. Penso, sendo assim, que listas podem ser indicativos imperfeitos já que não encerram todas as informações. Daí, podem gerar interpretações: como será que chegaram até nós? Que dados podem ter sido acrescentados ou retirados?
As listas são limites de tolerância que, por exemplo, definem quem estava ou não envolvido, que se movem dentro das fronteiras das capacidades ou das disposições pessoais. Mostram qualidades ou iniquidades, expõem as espécies de liberdade ou nossas limitações.
De uma leitura que provoque uma dor angustiante até uma repulsa instigante, uma lista certamente mostra níveis de consciência que nos afastam ou nos aproximam uns dos outros. Tendemos a pensar após a verdade que se revela com uma lista, que emerge em momentos decisivos, como disse que parece que testam nossos limites. É um fio da navalha, uma corda bamba, como se separasse e determinasse quem é santo, canastrão ou herói.
Pode até não revelar de forma clara, mas indica um tipo comportamento? Se não estou presente é porque falto muito. Afinal, o que indica aquela lista? É de investigados, apontados ou birrentos praticantes de uma política de lesa pátria?
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais (www.marioenzio.com.br). Email: ([email protected]).