EXÓRDIO… QUE REMÉDIO É ESSE?
De fato, parece nome de remédio. Aliás, há um para o coração que se chama quase isso: é o exordil!
Afinal, o que é exórdio?
Em Oratória, é o nome técnico que se dá a uma das três partes da comunicação. Precisamente a primeira: o início; aquela que vai estabelecer contato com o interlocutor. Tal é sua importância, que foi definida por Cícero como sendo “a parte do discurso que prepara os ouvintes para bem receber a mensagem. ” Não é sem razão, portanto, que muitas pessoas afirmam que: “A primeira impressão é a que marca”!
Como devemos proceder nesse momento crítico? Que tipo de saudação deve-se fazer?
Certo prefeito do interior “caprichava” no exórdio, ao falar em solenidades: fazia largas referências a cada um dos integrantes da mesa e, não satisfeito, fazia o mesmo para com pessoas que se achavam no plenário. Um dia, o governador fez-lhe uma observação:
– “Prefeito, você consome muito tempo fazendo tantas e tão longas saudações. Isso não é retórico! Faça o seguinte: estenda o cumprimento a todos os presentes em apenas duas citações. Por exemplo: se estiver em uma escola, saúde professores e alunos. Se for em um hospital, use os termos médicos e pacientes e assim por diante. ”
Acatando a sugestão, o prefeito decidiu pô-la em prática na primeira oportunidade que surgisse. E foi, imaginem! na inauguração do cemitério da cidade! Sem se dar por achado, o alcaide saiu-se com esta:
– “Meus caros conterrâneos e… subterrâneos!”
Tenho tido o desprazer de ouvir – até de quem eu não esperava – essa lamentável saudação exordial:
– “Bom dia (ou boa tarde ou boa noite) a TODOS E TODAS! (Ou A TODOS e A TODAS!)
Barbaridade! Por que isso?
Uma simples consulta ao dicionário esclareceria que TODOS é “pronome indefinido”, que significa “todas as pessoas; toda a gente; todo o mundo; o mundo inteiro” (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).
PRONTO! Quando alguém dirige a saudação a TODOS, as “TODAS” estão incluídas, pois o sentido é “todas as pessoas”!
Certamente as razões para essa forma esdrúxula de saudar são duas: a intenção – muito justa – de dar destaque às mulheres (o que começou com o presidente Sarney, saudando “brasileiros e brasileiras”…) e a confusão entre todo, todos como pronome indefinido e todo, todos como adjetivo (ou pronome adjetivo), nesse caso, flexionando-se e acompanhando o substantivo. Aí, sim, caberia dizer:
– “Bom dia a TODOS (OS) ADVOGADOS e A TODAS (AS) ADVOGADAS”!
Não faria sentido – nem seria eufônico (eufônico: “som agradável”, derivado de “eu” ou “ev” que significa “bom”; e “phoné” que equivale a “som”) – dizer, por exemplo:
– “Bom dia a TODOS OS PRESENTES e A TODAS AS PRESENTES”…
Outra forma muito comum de se proceder ao contato inicial com o público é a já cansada expressão:
– “Para quem não me conhece, meu nome é Fulano de Tal”.
Parece tão perfeita que muitos comunicadores e palestrantes a usam. Afinal, ela é simpática e empática: facilita a interatividade, já que os ouvintes ficam, de imediato, sabendo o nome do orador! Entretanto, uma observação atenta, dará lugar a esta pergunta:
– “E para quem o conhece, como é seu nome? São dois: um para quem não o conhece e outro para quem o conhece ?”
Aqui o que ocorreu foi uma “lacuna da comunicação”. Uma parte da mensagem ficou apenas “na intenção”, não chegando a ser proferida. Mas foi “captada” pelos receptores. Isso é muito comum no processo comunicacional brasileiro: nós falamos e entendemos nas entrelinhas… O que não acontece com nossos irmãos europeus. Aqui, se uma pessoa pergunta a outra: “O senhor sabe que horas são ?”, a resposta, invariavelmente, será: “Sim, são onze horas”. Na Europa, a pessoa diria apenas: “Sim, sei”!
No caso da lacuna apontada acima, o que deixou de ser dito e que completaria a frase foi:
– “Para quem não me conhece, eu informo que meu nome é Fulano de Tal!”
Por tudo isso, não se pode tratar displicentemente o momento de abertura de qualquer pronunciamento. Como já demonstrado por estudos especializados, os primeiros 30 segundos de uma comunicação são fatais: se o comunicador não conseguir captar a atenção dos ouvintes nesse período, isso se tornará muito mais difícil e talvez impossível !
Pense nisso. Mas, por favor, nunca comece saudando “todos e todas”!
J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista.
É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras.
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